domingo, 30 de agosto de 2009

EASY RIDER

Embora a febre motard me corra na família nunca padeci dessa doença. Até dispensei a acelera que muitos coleguinhas tinham no liceu. O maior fascínio das motas para mim residia – e nem este era particularmente perturbador – na ideia de um tipo de óculos Ray Ban a conduzir a dita por uma estrada deserta, muito ao estilo do Dylan de Beverly Hills 90210, o mito da minha juventude.

Posso até confidenciar que olhava para os tipos das motos com certa…

Desconfiança? Enfim, é sabido que os idiotas que gostar de circular a 200km/h provocam acidentes seríssimos só pelo prazer de sentir a adrenalina. Ora, eu acho que cada um tem o direito de se matar como queira (daí ser firme defensora de eutanásia e dos testamentos em vida), não tem é o direito de andar a matar os outros e destruir familiar.

Paternalismo? Convenhamos que o ridículo da vestimenta de cabedal, com o lencito à Xutos, barbas a roçar a cintura e um ar, no mínimo, avesso à limpeza, me despertava certo paternalismo.

Curiosidade? Pois se a coisa tem tantos adeptos já desconfiava que não havia de ser má de todo e que algum encanto se escondia por entre km de alcatrão e terra batida.

Mas como de tudo nos calha na vida este fim-de-semana bateu-me à porta o convite para um passeio de mota. Mota… quer dizer, nem sei ao certo como lhe chamar. Para mim aquilo parecia um tanque de guerra de duas rodas. Aceitei à falta de melhor programa e aliciada pela companhia. Mas a medo. Muito medo. Na noite anterior sempre que fechava os olhos me imaginava contra os rails de uma auto-estrada, desmembrada ou, no mínimo, decapitada. Ora, se esse não foi um fim simpático para a Maria Antonieta, não vejo porque o deva ser para mim. Mas como o objectivo é defrontarmos os nossos medos lá fui eu fazer de pendura (“uma miúda das motas”) neste Domingo de Agosto

Primeiro desafio: escolher a vestimenta apropriada. Porque não tendo sequer um blusão de protecção, colocava-se a questão de saber como me proteger do frio e de algum potencial embate. Antes de mais, exclusão de roupas que se pudessem enredar na mota ou que subissem de tal modo ao sabor do vento e da velocidade que os restantes motociclistas e automobilistas vislumbrassem a rendinha da minha roupa interior.

Segundo desafio: enfiar a minha gigante cabeça no capacete. É que além de uma juba de leão (só eu sei, porque não fico em casa, lalalalalala) agraciou-me Deus (ou o demónio) com um cérebro monumental, de modo que nem me cabe na cabeça (tenho para mim que a principal razão do meu cabeção é mesmo massa cinzenta e não puro vácuo). Depois de prender a cabeça lá dentro, de tal forma que seria precisos 10 homens a puxar-me pelo pescoço para me “desenfiar” de novo, dei por vi a divagar sobre o bonito estado dos meus caracóis quando tirasse a carapuça. Mas decidi que iria adoptar um movimento à “anuncio de champô”, de modo que mal me “desencapacetei” eis-me a abanar a cabeça para todo o lado, ao melhor estilo da Pantene.

Terceiro desafio: subir para a mota. Porque, como disse, aquilo era mais bem um touro. Um bisonte. Uma coisa grande. Equilíbrio. Não caias na frente desta gente toda por favor. Agarrei-me como pude ao condutor, com unhas, dentes, e que mais tivesse eu para me manter firme, e levantei a perna. De pouco me serviu a minha afamada flexibilidade, porque acabei por dar com a biqueira da bota na mala da mota. Mas finalmente sentei o rabiosque e pensei que aquele fora o meu movimento mais arriscando. Ufa!!!!... Mas quando a coisa se pôs em movimento vi o quão crasso fora o meu erro de julgamento.

Quarto desafio: manter-se em cima da mota. É que aquilo anda. E faz curvas. E inclina-se. E passa entre os carros, que nem sempre nos vêm e muito menos gostar de se sentir ultrapassados por gente de duas rodas. E como, segundo parece, o condutor sente alguma dificuldade em conduzir comigo abraçada ao seu troco como se fora um macaquinho agarrado à mãe, não me restou outra saída senão os apoios laterais. E lá fui, hirta como um pau de vassoura. Depois dos primeiros km deixei de lhe dar “capacetadas” sempre que ele abrandava, e ao fim do dia até já, pasme-se, me atrevi a libertar as mãos e coçar o pescoço.

Balanço final: ainda tenho muito para aprender, mas a Elisabete Jacinto que sou cuide. Hoje nasceu uma motard. Esy rider, easy going.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A NORA PERFEITA

Conhecer os pais dele é sempre complicado. Não para mim, que sou perfeita. Eu penso que sim. O meu papá e a minha mamã pensam que sim. Logo, será de prever que os outros papás e as outras mamãs também assim considerem? Ou não?

Sempre encarei com extrema confiança o momento em que se conhecem os pais. Talvez porque nunca tenha perdido um segundo sequer a comprar-me com a ex do meu actual. Chamem-lhe egocentrismo, mas eu prefiro falar em “auto-consciências das minhas potencialidades”. Porém, quando me apercebi que estava a ocupar o lugar de uma menina prendada, tremi. Quando a bendita da ex é uma exímia dona de casa, pouco dada a saídas nocturnas e extravagâncias afins, sem grande experiencia no campo amoroso, recatada e discreta, damos por nós a pensar que neste campeonato dificilmente ganharemos a taça, pelo menos quando o júri seja a mãe, a tão temível “mãe”, vulgo (potencial) “sogrinha”.

Com calma, Vera, com calma. Tu tens um mestrado, publicas livros e dás conferências. Viajas por todo o mundo e és perfeitamente autónoma em termos económicos. Não és tu a nora ideal? E a pouco surpreendente resposta parece ser: NÃO. Porque eu já tive namorados. Porque eu tenho alguns furos no corpo e alguns desenhos na pele. Porque eu mal sei cozer um botão e deixo queimar o arroz (já agora, se alguém souber como se recupera um tacho esturricado…).

A verdade, nua e crua, é esta: para as mães deles, que por muito boas que sejamos, nunca estaremos suficientemente apta a cuidar do “menino”. Não fazemos sopinhas como elas, nem passamos camisas como elas, nem temos a paciência delas. Em suma, não há juiz mais exigente do que a mãe do nosso amor. Porque o bom do marmanjo pode ser um trintão com mais de 1,90m, mas para elas há-de ser sempre o “menino”. E nada é bom demais para ele. Muito menos nós. Já a ex… quem sabe…

Chegada aqui concluí que tudo aquilo que enche os nossos pais de orgulho passa ao lado das sogras. Pois que interessa que eu seja citada em acórdãos quando nem um ensopado sei fazer? De que me serve a mim ser fluente em várias línguas quando mal sei distinguir uma agulha de tricot de uma agulha de crochet? E já nem menciono as 20 flexões que faço sem apoiar os joelhos porque, em boa verdade, até ao lado dos meus pais isso passa.

As relações entre sogras e noras podem ser uma autêntica Faixa de Gaza. Há quem leve a mal que não nos levantemos para ajudar a levantar a mesa, mesmo que o próprio filho permaneça confortavelmente sentado a palitar os dentes. Convenhamos, ou se levantam os dois, ou apenas ele, ou ninguém. Mas nós seremos sempre as convidadas. De modo que nada nos deve ser exigido, e tudo o que se faça para além disso é uma gentileza que parte da vontade própria. Há quem queira uma companhia para as compras, que incluem naperons e tacinhas de vidro, matéria na qual sou evidentemente perita. Há quem procure uma confidente para se queixar do marido, como se nós não tivéssemos queixas suficientes da cria. Há quem anseie por uma menina que ocupe o seu lugar de protectora/empregada doméstica/ faz tudo. Há quem, em contrapartida, veja em nós potenciais ameaças ao seu papel avassalador e que, por conseguinte, prefira noras sossegadinha no seu canto, que não atentem contra o seu reinado matriarcal.

Mas também existem situações de autêntica paixão. Não falta quem confidencie que o que mais lhe custou ao terminar a relação foi cortar os laços com a nova família. Eu própria já estive “apaixonada” por uma potencial sogra, e no finalzinho custou-me tanto deixar a mãe dele quanto deixá-lo a ele.

Resta a questão crucial: Que procuramos nós numa sogra?

Quanto a mim, só peço que eduque a sua cria de forma a fazer-me feliz, o que pode ter múltiplos sentidos, conforme a potencial felizarda. A nossa felicidade pode passar por alguém que nos leve o pequeno-almoço à cama ou que escute as intermináveis divagações sobre o último projecto de trabalho, isso já depende de cada uma. Mas uma sogra que consiga este feito bem merece um lugarzinho no coração.

Que procuram as sogras em nós? Quero crer que exactamente o mesmo: alguém que torne o seu menino feliz, mais uma vez, seja lá o que isso signifique.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ESTAVA A PENSAR EM EMIGRAR PARA A MAURITÂNIA….

Há uns dias atrás, no programa da Oprah (riem? Atire-me pedras quem nunca viu) recebi uma informação de extrema importância para a minha vida. Providencial, diria mesmo.

Meninas, preparem os passaportes: na Mauritânia o ideal de beleza consiste numa mulher gorda e cheia de estrias. Sim, o céu existe. E chama-se Mauritânia.

Mulheres cheiinhas, gordas, anafadas, cheias de gosma, com estrias rosadas a rasgar-lhes a pele. Tudo isso é admirado. De repente sinto-me tonta por me ter inscrito no Holmes . Mais produtivo seria enterrar-me no sofá com as Oreos, polindo a minha “beleza”.

De forma que estou a ponderar seriamente a hipótese de emigrar para a Mauritânia. Já comecei até a fazer a malinha. Roupa discreta, obviamente, que esta coisa de ser um país muçulmano pode causar alguns dissabores. Mas acho que consigo bem viver tapada dos pés à cabeça se tiver a garantia de ser uma deusa da beleza. Por outro lado, a burca esconde a celulite, logo, são só vantagens. Começo a não perceber porque se queixam as mulheres árabes… aqui do meu canto do Estado laico parece-me uma vidinha santa (no sentido “Ala-iano” da palavra, entenda-se) -

Recordam-se das vezes em que encolhemos a barriga quando passamos frente a um grupinho de meninos? São tempos idos. Agora há que enche-la de ar e espetá-la o mais possível, num misto de gravidez histérica e de balão.

Jeans descaídos que deixam antever o tão perigoso pneu a sair naquele maldito espacinho entre o cós das calças e a t-shirt? Um must.

Iogurtes light e outra comida de dieta? Jamais.

E o melhor – porque ainda há melhor do que o já relatado – é que este ideal estético só vale para as babes. No caso dos homens, querem-se magrinhos. It’s the end of the world as you know it, right? Porque na Mauritânia os papéis que cada um de nós desempenha durante o jantar apresentam-se invertidos:

- “Posso terminar o teu bolo de chocolate? – diz ela – é que se comeres isso tudo as calças deixam de te assentar bem.”

- “Achas que estou gordo?” – pergunta ele.

- “Gordo? Não diria tanto – responde ela, mediando as palavras – mas quando nos conhecemos a roupa assentava-te melhor”.

De modo que ele passa o resto da semana a salada de alface e batidos de dieta, o suficiente apenas para ter a energia necessária para correr 5 km todas as manhãs, enquanto ela abre uma lata de cerveja e se senta em frente à televisão a arrotar e comer amendoins.

Em suma, podemos comer o mundo, mas em termos de carne humana não temos que levar com um namorado balofo. O velho dogma de que é a magreza que nos há-de trazer um noivo bem-parecido é assim ultrapassado por um novo ideal de beleza, que impele os homens a procurar pegas de gordura onde agarrar.

“I have a dream”.

“My dream is Mauritânia.”

sábado, 22 de agosto de 2009

AFINAL, EU JÁ TENHO 33

Reencontrei há pouco uma amiga de longa data, e no meio das usuais conversas de meninas que não se vêm há milénios lá me confidencia ela que pinta o cabelo para esconder os brancos (convenhamos… tirando o Gere e o Clooney, o comum mortal não fica lindo esbranquiçado), ao que eu respondi, com alguma mágoa - e porque não dizê-lo? Comiseração – na voz: “Afinal, já temos 33!”.

E depois parei. Porque, em última instância, what a fuck does it mean? Sim, meus senhores, que raio significa hoje ter 33 anos? No tempo das nossas mães significava estar casada, ter filhos (no caso da minha mamã tinha-me a mim já bem crescidinha), ser uma senhora recatada, com saia direita e escura pelo joelho e serões em frente às novelas enquanto se fazia crochet ou tricot. Não que por essa altura não circulasse já por certos labirintos sociais o mito das trintonas (uuuuuu!), sex-symbols mais ou menos bem conservados que as actrizes e as vizinhas do lado foram fomentando. Mas era eram, no essencial, uma sentença de morte.

Quanto a mim, não me imagino assim nem quando for sessentona. Porque os meus 33, os teus, os nossos, são diferentes. A minha mãe morre um bocadinho de cada vez que vê as minhas (mico)mini-saias. Que já não sou uma miúda, diz ela. Que me devia comportar como uma senhora, acrescenta. Que tenho responsabilidades profissionais, reforça. E eu? Eu encolho os ombros, dispo a saia e visto uns calções ainda mais curtos. A questão, my dear friends, é a seguinte: que culpa tenho eu de ainda ter pernas giras para mostrar? Pois se hoje os ginásios, os cremes e uma nova percepção da existência feminina, permitem que usemos quase ad eternum as saias que as nossas mães só vestiram nos seus tempos de teen (e note-se que a minha abusava da mini-mini, de modo que isto é genético), porque me hei-de confinar a ser uma “senhora”, seja lá o que isso signifique? O tempo há-de chegar, não o apressem.

No fundo, hoje os 30 são os 20 de ontem. E os 40 os 30. E os 40 os 50, and so on. Basicmanrte, é como se as gerações tivessem recuado uma década na tentativa (quiçá frustrada) de driblar o tempo e o envelhecimento. Somo o CR9 (ex-CR7) a contornar adversários, com a sorte de o fazermos melhor do que ele ainda.

De facto, hoje vivemos a perpetuação dos eternos 20 anos. Roupa a mostrar pele, sapatilhas rotas, calças rasgadas, copos e noitadas, saltar da cama às tantas. Porquê? Porque não temos a responsabilidade de um bebé a chorar ou de um marido a querer o pequeno –almoço. E mesmo quando a temos dávamos a volta à coisa. Um grande bravo a todos os papás e mamãs que eu conheço que continuam a namorar e a sair, sem isso esquecer os biberões e as mudanças de fraldas. O que não significa irresponsabilidade. A tão falada “geração rasca” veio a revelar-se responsável, competitiva e produtiva. As aparências enganam, não é avó?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

COMEÇAR DE NOVO

Sou aquilo que se chama uma nómada. Já comecei de novo por diversas vezes e, como se constata pelo presente testemunho escrito, sobrevivi a todas.

Parto porque não consigo ficar. Parto porque não tenho motivos para ficar, nada nunca me prendeu a um sítio. Um dos meus handicaps pessoais – ou vantagem, depende da perspectiva - é a dificuldade em criar raízes. Essa vontade de ir, correr o mundo e partir (a vida é sempre a perder) já me fez deixar tudo e aterrar algures por aí… África, EUA.

Desta vez fiquei mais perto. Mas como a idade já é outra admito que a transição seja mais difícil também. A forma como fazemos amigos aos 20 anos não é todo igual à forma como os fazemos aos 30. Temos mais bagagem connosco, não apenas material (duvido que os senhores das mudanças tenham visto alguma vez uma babe com tantos sapatos), mas sobretudo emocional. E se há uns anos atrás o desafio de começar do zero me encantava, agora… só me semi-encanta. E provavelmente daqui a uns anos começará a desencantar-me. O que quero dizer com isto é que cada vez mais sentimos a necessidade de encontrar um sítio e ficar. Um poiso. Um lar, se quiser entrar na onda lamechas. Porque saltimbancos quarentões não são a coisa mais in do mundo. E, mesmo que sejam, quase desconfio que não serão os mais felizes.

Quando todas aquelas mãos que me vieram ajudar na mudança se foram embora e me deixaram sozinha entre estas quatro paredes senti aquela adrenalina de quem pode deitar tudo para trás das costas e inaugurar uma nova existência. Como se todos os erros do passado passassem subitamente a pertencer a outra pessoa. Na minha frente, uma tela branca, novinha em folha, pronta para ser pintada, riscada, borrada, estragada…rasgada?

Não sei se esta será a minha “vida definitiva”. Se bem me conheço o mais provável é que daqui a uma par de aninhos anuncie neste blog que comprei uma passagem de avião para Kuala Lumpur. Mas enquanto não começo a próxima vida, tenho que viver esta. Numa casa onde nem todas as janelas fecham e a campainha mal toca. Mas é a minha. E gosto dela assim. Porque destas águas furtadas avisto o mundo. E ele, o mundo, sabe que eu estou aqui à espera de o conquistar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A VIRGINDADE RELATIVA

Tenho trabalhado muito em direito farmacêutico e durante as inumeráveis noites em que privei de perto com patentes and so on descobri que, para patentear uma invenção é requisito essencial que a coisa seja “nova”. Não vos querendo maçar com o fabuloso mundo da propriedade industrial, sempre posso avançar que será “absolutamente nova” a invenção não conhecida em nenhuma parte do mundo, e relativamente nova aquela desconhecida no país onde pretende ser registada, ainda que conhecida noutros quadrantes geográficos. Pois bem, assentemos ideias: se uma invenção pode ser nova em várias acepções, então, porque não pode uma mulher ser virgem em várias acepções? Por exemplo, a senhora Y é relativamente virgem em relação ao senhor X, mas não é absolutamente virgem já que em boa verdade varreu metade da cidade. Mas, ainda assim, é virgem. Digo eu… E assim resolvo o assunto a uma série de gente que adoptou os comportamentos que bem entendeu mas agora é incapaz de os assumir perante os outros.

Estas divagações mais ou menos estapafúrdias assaltaram-me a cabeça num domingo sonolento, estando eu semi-estendida no Micra (eu sei… carro de gaja…. ) de uma amiga, a caminho da Figeuira. Dia de praia, conversa de meninas, línguas soltas, saí-se a Leninha com o relato televisivo da temporada. E assim fiquei a saber que, algures pelo mundo, existe uma “associação recreativa” (espero que não para defesa de interesses profissionais) chamada de “Clube das Virgens”. Assim mesmo. Já não é só o Sporting (só eu sei, porque não fico em casa!!!!!!!! lalalalalalalal), o Porto, o Estrela da Amadora. Agora as virgens têm um clube. Não jogam futebol, mas de certeza que têm tantos adeptos quanto o Manchester United.

E pronto (“prontos” também é lindo!). Prometo que esta foi a minha última nota de sarcasmo. Porque o assunto é sério. A virgindade é uma coisa séria. E cabe a cada um e a cada uma abrir mão dela (é que não gosto de a ideia de “perder a virgindade”… parece-me sempre que a deixei esquecida num banco de autocarro) quando bem entender. Conheço quem o tenha feito aos 29 e quem o tenha feito aos 12. E certamente haverá quem tenha sido ainda mais lento e ainda mais apressado. É matéria do foro íntimo de cada um. O momento temporal releva menos do que a pessoa que está do outro lado. É por essa que temos que esperar, não por uma idade ou uma situação da vida. E bem pode acontecer que, mesmo não sendo absolutamente virgens, no sintamos relativamente virgens dado o grau de entrega com que nos assumimos perante alguém que encontramos em momentos mais tardios da vida. Como se fosse aquela a primeira vez e nunca antes tivesse existido outro qualquer someone. “Like a virgin, touched by the very first time…” (é sabido que o meu grau de desafinação é proporcional à minha vontade imensa de cantar).

O que me surpreende é que haja quem faça bandeira da sua virgindade e caminhe pelo mundo apregoando-a. Será que existe também por aí um “Clube das Promíscuas”? E o “Clube dos que Gostam do Sexo Assim e Assado”? E o “Clube dos que Preferem Papel Higiénico Macio”? Não me surpreenderia. . . o associativismos é realmente uma coisa fabulosa.

Este é o blog: http://clubedasvirgens.blogspot.com/ Vale a pena dar uma olhada. Sem preconceitos. Afinal, se nenhum de nós tem vergonha de entrar numa sexshop e não nos rimos ao ver o que por lá anda (ou não anda), parece-me congruente entrar no site com respeito, e até alguma admiração por quem consegue dominar os impulsos da natureza durante tanto tempo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

CONFISSÕES DE UMA EX-TRISTODEPENDENTE

“Olá, o meu nome é V e sou uma ex-tristodependente. Estou em recuperação. Este é o meu 30.º dia sem depressão”
Todos nós ficamos tristes. Mas para alguns de nós a tristeza pode transforma-se a qualquer momento numa depressão profunda, com perda de peso, choro, noites em claro, e tudo aquilo a que uma boa depressão dá direito. Os comuns mortais derramam um par de lágrimas e seguem o seu caminho. Alguns de nós, porém, lançam-se em queda livre num abismo e enquanto não batem no fundo mais fundo dos fundos não emergem à superfície. Não que sejamos pessoas depressivas, lúgubres ou soturnas. Pelo contrário. A nossa felicidade supera igualmente a vossa, é arrasadora. Simplesmente, é como se qualquer emoção fosse levada até aos píncaros. E o que vale para o riso vale igualmente para as lágrimas.
Costumo pensar em mim como uma espécie de addicted, com a diferença de que a minha adição é a tristeza. Gosto dela? Sim. Sempre pensei que são os momentos tristes que melhor nos fazem apreciar a nossa felicidade. Posso viver sem ela? Com a sua total ausência penso que não, mas sem dúvida que gostaria de a ter mais afastada. Domina a minha vida? Hoje já não.
Porque estou consciente disso apenas me deixo submergir na depressão durante um de par de horas. Um fim-de-semana no máximo. Porque estar deprimida é um luxo, e nem todos nos podemos dar a esse luxo. Eu, de todo, não posso. Sou como um alcoólico em recuperação. Ele sabe que não pode sequer beber um copo de vinho porque estará a abrir a porta a perigos inimagináveis. Passado uns meses autorizar-se-á a beber um copo, mas nunca poderá cair ébrio. É difícil. Para ele um copo nunca será apenas um copo, à vontade de seguir-se-á o desejo de muitos. Ele entra em coma alcoólico; eu entro em coma depressivo. Por isso aprendi a disciplinar-me. Não sei se o controlo das emoções me torna mais fria e menos espontânea, mas tenho a certeza que me torna mais forte. Se a tristeza é a minha debilidade só lhe posso dispensar um prazo muito circunscrito do meu tempo de vida. Hoje em dia dou a mim mesmo um minuto por dia, em regra à noite, antes de adormecer. Não mais. Quem manda sou eu, não o vicio.
Da última vez que me aconteceu um desastre emocional entrei em pânico. Mais do a que a tristeza em si era o temor daquilo que se lhe seguiria. Autorizei-me a deprimir durante um fim-de-semana. E na 2.º feira pintei os lábios, disfarcei as olheiras e saí para a rua. Porque ninguém gosta de fracos. A sensibilidade é admirável, mas a fraqueza não. A vulnerabilidade até pode ser interessante, mas a debilidade é tremendamente aborrecida e monótona. Nenhum dos restantes seres humanos é obrigado a suportar os meus devaneios depressivos, sob pena de um dia eu me transformar em mais uma personagem de novela mexicana. E haverá sempre aqueles que passarão por uma fase de júbilo com a nossa angústia.
Nunca estive numa reunião de alcoólicos anónimos mas nos filmes falam sempre dos 12 passos e do célebre “um dia de cada vez”, e é assim que procuro gerir a minha adição. Não sei quanto tempo me conseguirei aguentar assim, mas sei que hoje ainda não fui derrotada.