sábado, 10 de outubro de 2009

PELA VOSSA SAÚDE, BEIJEM-SE


Alerta laranja: temos uma nova epidemia em mãos. O vírus da gripe já era. A maior preocupação dos nossos tempos deve antes ser o vírus do stress e da depressão. O país anda severamente deprimido. As pessoas empurram-se umas às outras no metro e nem sequer pedem desculpa. Queima-te com a ponta do cigarro (ou outro derivado de produtos naturais) quando passas nas ruas estreitas do Bairro Alto e parecem sentir prazer com isso. Chegam a vias de facto para tentar passar à frente na fila do MacDonalds. Desejam-se coisas terríveis aos chefes (onde se incluem diarreias ou prisões de ventre, depende do que se entender mais doloroso) e depois vingam-se nos subordinados, a quem podem efectivamente fazer a vida negra. Buzinam e ofendem no trânsito e, de quando em vez, mostra-nos o dedo anelar. Em suma, o maior flagelo deste mundo é a depressão e a raiva.
Porém, não “paniquem” (um grande bem-haja à Magui por ter introduzido este termo no meu léxico diário), eu tenho a solução. Beijos. Yap. Beijos. Informou-me esse fabuloso meio didáctico que é a televisão que um beijo de 30 segundos por dia diminui o stress, a ansiedade a depressão. Tão simples como isso: abrir a boca, deitar a língua cá para fora e deixar a outra entrar. Já dizia a minha avó, é tudo uma questão de cedências…
Note-se que não me refiro àqueles beijos de bochecha, que damos às tias com verrugas na cara. Tão-pouco aos xouxo, de lábios bem fechados, não vá algum vírus entrar pela goela. Falo daqueles beijos longos, húmidos, quase pegajosos (e quem não gosta de se sentir pegajoso, enh???), que duram no mínimo 30 segundos, mas cujo efeito em nós se repercute durante horas. Com saliva e tudo o mais a que dão direito. É desses mesmo que falo.
Imaginem o quão surpreendente seria para o tipo que, no carro atrás do meu no posto de combustível, me apita insistentemente para tiraram o carro dali se, subitamente, o beijasse. O homem apitava desenfreadamente, e começava já a vociferar algumas conceitos pouco abonatórios para a minha pessoa, onde se incluem referências a ficar em casa a lavar a louça ou a dar pontos nas meias. Eu fazia o meu melhor para arrumar na mala XXL o VISA, o batom e o espelhinho da Channel (tendo em conta o que paguei por 10 cm de espelho, bem posso ter todo o cuidado do mundo em deixá-lo bem guardadinho numa bolsinha à prova de acidentes). O homem começava a passar os limites da decência e do bom gosto. E eu, que não tenho sangue de barata, saia calmamente do carro, (o calmamente não se destina apenas a criar o ambiente propicio para a história, mas justifica-se sobretudo pelos estragos que o tamanho dos altos já fizeram aos meus pezinhos, agora inchados e doridos), dirijo-me ao carro dele, baixo-me (de costas direitas, para ficar com o rabiosque espetado e ao menos dar uma boa fotografia), enfio a minha cabeça por entre o vidro da janela e beijo-o. Assim, do meio do nada, beijo um completo estranho. E depois vou-me embora para o meu popó, onde continuo calmamente a arrumar as minhas coisinhas de menina. Lindo, não é? Sugiro veemente esta solução para evitar cenas menos próprias que nos deixem os nervos em franja e acabem com uma queixa na polícia.
Por conseguinte, beijem-se. Se querem viver mais tempo e mais felizes tratem de começar a trocar fluidos com a vossa meia laranja e, caso ainda não vos tenha caído no colo, até mesmo com o vizinho do lado. A não ser que tenha herpes e seja zarolho, sendo que nesse caso estão dispensados de o fazer.
Mas, pela vossa saúde, beijem-se.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

UM AMOR COMO NOS FILMES


Aqueles que nós que crescemos rodeados de livros e de filmes queremos isso mesmo: um amor de conto de fadas, um amor como nos filmes.
Nos filmes tudo é perfeito. Pode começar por não ser. Pode terminar por sê-lo ainda menos. Mas mesmo de forma dramática e bizarra, mesmo que a heroína morra e o herói se suicide, tudo acaba por ser perfeito. Recordo-me de uma musica: “many people take second best ...But I won't take anything less ...It's got to be perfect”. Não sou completamente naif (apenas medianamente). Sei que perfeição não existe, até porque só seria possível se também eu, a contraparte, fosse perfeita, coisa que estou longe de o ser. Mas podemos ansiá-la. Desejá-la. Trabalhar para ela. E não nos ficarmos por menos do que isso. Esta é a herança que os meus pais me deixam, com um casamento feliz de 30 e tal anos. Pesada herança esta! Convenhamos que a fasquia não está nada baixa…
Suponho que o mito da perfeição seja alimentado também pelos fracassos anteriores. Quando se sai de uma relação desastrosa pensamos em não cometer os mesmos erros. No meu caso, o principal erro foi acreditar que as coisas iriam melhorar. Ele hoje desmarcou? De certeza que amanhã não faz o mesmo. Ontem confidenciou-me ter dúvidas? Passarão com o tempo. Tenho a sensação de que ele não gosta o suficiente? Vaia acabar por gostar.
O catolicismo ensina-nos, desde o berço, a ter fé. Eu não a tenho em Deus, porque não tenho a certeza de que exista (mas, pelo sim pelo não…), porém, tenho muita fé nas pessoas de carne e osso que me rodeiam. E depositei nele toda essa fé. Acreditei que aquele amor iria superar todas as “feridas de guerra” e, tal como nos filmes, sairia vencedor. O que se passava era que o tal amor era só meu. Não havia um “nós”, um “nosso”. Apenas um “eu” à espera que o “ele” despertasse um dia e, como por magia, se apercebesse que eu estava ali. Nunca aconteceu. Não se iludam: nunca acontece.
Depois disso percebi que o que nasce torto, torto morre. Por isso hoje quero coisas perfeitas. Já não espero que o venham a ser, mas exijo que o sejam desde o inicio. Nos momentos de lucidez apercebo-me que estou errada. Até tenho noção disso. Mas – e não pretendo aqui invocar justificação alguma para as minhas fantasiosas exigências – a verdade é que já não tenho nem disponibilidade nem disposição para esperar que o imperfeito se torne perfeito. Falta-me tempo e força anímica para aguardar pacientemente que ele olhe para mim, realmente para mim, e veja o fantástica que sou e como goste dele. Ou percebe isso imediatamente ou eu tenho que ir procurar o filme da minha vida.