A história não é original.
Rapaz parte coração a rapariga. Rapariga bate com a cabeça nas paredes durante alguns meses, e no meio da perturbação decide que o único remédio é voltar a apaixonar-se. Mas aí está uma coisa mais fácil de dizer do que fazer. Porém, a força de vontade move montanhas e, pelos vistos, também corações. Um dia a rapariga encontra um rapaz amável e limpinho, e decide que será aquele a sua vítima. E tenta, tenta com todos os poros do seu corpo, criar ali uma paixão, alguma coisa a que se pudesse agarrar. Mas as comparações são inevitáveis, e quase sempre injustas. De modo que o rapaz estava a ser um paliativo, não a cura da doença de coração. Quando ela procurava as palavras apropriadas para virar as costas com alguma graciosidade ele facilita-lhe a vida. Mete o pé na argola de uma forma que ela não podia deixar passar. A rapariga suspira de alívio. Ao princípio. Depois, dá por ela a suspirar por ele. A ausência do rapaz é sentida como uma perda. Dias mais tarde o rapaz volta. Perde perdão. Chora baba e ranho. Implora. E a rapariga, cheia de medo de perder aquilo que lhe parecia a última oportunidade de se apaixonar, amolece. Mas antes mesmo de se consumar o acto de misericórdia afectiva ele falha de novo. Redondamente. Profundamente. Imperdoavelmente. E ela, que não é mulher dada a grandes gestos de clemência, desliga-lhe o telemóvel e bate-lhe a porta na cara. Não sentiu qualquer desgosto de amor… se calhar já nem está apta para sofrer mais nenhum, uma espécie de imunidade emocional que lhe adveio de uma dor crónica de coração. Pelo contrário, alivio. É que já é difícil partilhar a vida com alguém, mas é praticamente heróico partilhar quando não se gosta. E, de facto, aquela falta que tinha sentido num primeiro momento revela-se apenas a falta de uma presença abstracta e não de um “tu” particular. De modo que quando trancou a porta sentiu um peso sair-lhe de cima. Não apenas porque o “the end” chegou cedo (mas já tarde demais), mas também porque ficara evidente que ninguém se servira de ninguém. Ou melhor, tinha-se servido mutuamente um do outro. A rapariga porque queria uma companhia que lhe adoçasse o ego. O rapaz porque queria… o que queria, nem ela sabe. Tudo sem violação do princípio kantiano, porque, ao fim ao cabo, uma instrumentalização anula a outra.
A história é esta. Como bem avisei, nada de excepcional ou exótico. Gostava de ter outra coisa para contar, mas isto é o que tenho.
Porém, há aqui um desfecho extraordinário. É que passados meses de infrutíferos contactos por parte dele, decidi finalmente que poderíamos, e deveríamos, ser amigos. Não apenas porque partilhávamos agora a mesma cidade, mas também porque sentia falta do amigo que ele tinha sido um dia. E, convenhamos, a aproximação do espírito natalício deu um empurrãozinho. Marcámos um jantar. Eu estava ansiosa por retomar a nossa amizade no ponto em que a tínhamos parado. Mas para isso precisava de esclarecer uma série de mal-entendidos que poderiam aniquilar a nossa futura vida como “camaradas”. Durante um agradável jantarinho recordámos os bons tempos juntos. Queria, antes de mais, esclarecer algumas mágoas que poderiam ter ficado. Por conseguinte, rematei a conversa dizendo que acreditava que iríamos ser bons amigos, e que não podíamos deixar que um namoro de semanas se intrometesse no nosso companheirismo, até porque tinha sido uma coisa insignificante em termos de sentimentos, mais motivada pela mútua solidão do que por alguma outra coisa. “Afinal, nem sequer gostávamos particularmente um do outro”.
“Não, enganas-te. Eu estava perdidamente apaixonado por ti. “
Desculpe…importa-se de repetir?
Estás-me a dizer que gostava efectivamente de mim, que deitou tudo a perder porque sabia de deste lado havia um vazio, que sofreu com o fim? É isso que me estás a dizer?
Não sei se era isso. Posso garantir-vos que a foi uma noite maravilhosa, com um amigo que quase sinto como sendo de longa data, que me deixou à porta de casa e ficou ali a ver-me entrar antes de arrancar ruidosamente com o carro, que desde então não mais tive notícias dele, nem sequer uma resposta aos meus votos de feliz Natal, que não me atende telemóveis, e que o silêncio só foi quebrado por uma mensagem dizendo que estava de volta a um local que ambos tínhamos partilhado e que as recordações eram imensas. Deixo a cada um liberdade para divagar sobre o que ele terá querido dizer.
Rapaz parte coração a rapariga. Rapariga bate com a cabeça nas paredes durante alguns meses, e no meio da perturbação decide que o único remédio é voltar a apaixonar-se. Mas aí está uma coisa mais fácil de dizer do que fazer. Porém, a força de vontade move montanhas e, pelos vistos, também corações. Um dia a rapariga encontra um rapaz amável e limpinho, e decide que será aquele a sua vítima. E tenta, tenta com todos os poros do seu corpo, criar ali uma paixão, alguma coisa a que se pudesse agarrar. Mas as comparações são inevitáveis, e quase sempre injustas. De modo que o rapaz estava a ser um paliativo, não a cura da doença de coração. Quando ela procurava as palavras apropriadas para virar as costas com alguma graciosidade ele facilita-lhe a vida. Mete o pé na argola de uma forma que ela não podia deixar passar. A rapariga suspira de alívio. Ao princípio. Depois, dá por ela a suspirar por ele. A ausência do rapaz é sentida como uma perda. Dias mais tarde o rapaz volta. Perde perdão. Chora baba e ranho. Implora. E a rapariga, cheia de medo de perder aquilo que lhe parecia a última oportunidade de se apaixonar, amolece. Mas antes mesmo de se consumar o acto de misericórdia afectiva ele falha de novo. Redondamente. Profundamente. Imperdoavelmente. E ela, que não é mulher dada a grandes gestos de clemência, desliga-lhe o telemóvel e bate-lhe a porta na cara. Não sentiu qualquer desgosto de amor… se calhar já nem está apta para sofrer mais nenhum, uma espécie de imunidade emocional que lhe adveio de uma dor crónica de coração. Pelo contrário, alivio. É que já é difícil partilhar a vida com alguém, mas é praticamente heróico partilhar quando não se gosta. E, de facto, aquela falta que tinha sentido num primeiro momento revela-se apenas a falta de uma presença abstracta e não de um “tu” particular. De modo que quando trancou a porta sentiu um peso sair-lhe de cima. Não apenas porque o “the end” chegou cedo (mas já tarde demais), mas também porque ficara evidente que ninguém se servira de ninguém. Ou melhor, tinha-se servido mutuamente um do outro. A rapariga porque queria uma companhia que lhe adoçasse o ego. O rapaz porque queria… o que queria, nem ela sabe. Tudo sem violação do princípio kantiano, porque, ao fim ao cabo, uma instrumentalização anula a outra.
A história é esta. Como bem avisei, nada de excepcional ou exótico. Gostava de ter outra coisa para contar, mas isto é o que tenho.
Porém, há aqui um desfecho extraordinário. É que passados meses de infrutíferos contactos por parte dele, decidi finalmente que poderíamos, e deveríamos, ser amigos. Não apenas porque partilhávamos agora a mesma cidade, mas também porque sentia falta do amigo que ele tinha sido um dia. E, convenhamos, a aproximação do espírito natalício deu um empurrãozinho. Marcámos um jantar. Eu estava ansiosa por retomar a nossa amizade no ponto em que a tínhamos parado. Mas para isso precisava de esclarecer uma série de mal-entendidos que poderiam aniquilar a nossa futura vida como “camaradas”. Durante um agradável jantarinho recordámos os bons tempos juntos. Queria, antes de mais, esclarecer algumas mágoas que poderiam ter ficado. Por conseguinte, rematei a conversa dizendo que acreditava que iríamos ser bons amigos, e que não podíamos deixar que um namoro de semanas se intrometesse no nosso companheirismo, até porque tinha sido uma coisa insignificante em termos de sentimentos, mais motivada pela mútua solidão do que por alguma outra coisa. “Afinal, nem sequer gostávamos particularmente um do outro”.
“Não, enganas-te. Eu estava perdidamente apaixonado por ti. “
Desculpe…importa-se de repetir?
Estás-me a dizer que gostava efectivamente de mim, que deitou tudo a perder porque sabia de deste lado havia um vazio, que sofreu com o fim? É isso que me estás a dizer?
Não sei se era isso. Posso garantir-vos que a foi uma noite maravilhosa, com um amigo que quase sinto como sendo de longa data, que me deixou à porta de casa e ficou ali a ver-me entrar antes de arrancar ruidosamente com o carro, que desde então não mais tive notícias dele, nem sequer uma resposta aos meus votos de feliz Natal, que não me atende telemóveis, e que o silêncio só foi quebrado por uma mensagem dizendo que estava de volta a um local que ambos tínhamos partilhado e que as recordações eram imensas. Deixo a cada um liberdade para divagar sobre o que ele terá querido dizer.
Não deve existir nada mais cruel (neste cenário amoroso) que ter como termo de comparação um fantasma injusto e desleal de um ex-namorado...
ResponderEliminarMesmo com base em apenas estas breves e subtis nuances de uma noite maravilhosa e outro meio alqueire de parágrafos sentimentalistas arriscava dizer que esse rapaz estaria à espera que a sua donzela pegasse no cavalo branco e fosse atrás dele. Esse seria o único acto que lhe provaria que ela o correspondia nos seus sentimentos puros de paixão avassaladora!
Por vezes quando se Gosta (para não dizer Ama, que não quero deixar ferira a minha masculinidade...) é preciso libertar o nossa "Precious Thing" de forma a confirmar as suas verdadeiras intenções!
Destas divagações concluo que uma hipótese terá sido ele ter percebido que a sua "paixão" não era correspondida e convenhamos, assim não sendo, de nada vale implorar chorar sobre as secas passas dos Algarves... o mais sensato é partir! Se for correspondido os seus caminhos voltar-se-ão a cruzar!
E acho que já me estiquei um bocado, não já?
;-)
Homens... não mudam. Nem nos largam, nem nos apanham, deixa-nos ficar ali em banho maria. A maior parte toma-nos como garantidas, mesmo que não o sejamos. E a culpa muitas das vezes é nossa... porque lhes damos isso a entender. Eles adoram a fragilidade que nós adoramos demonstrar, não será isso?
ResponderEliminarOra tem que dar asneira... mas felizmente às vezes dá certo.
Só não percebo porque raio são tao diferentes os homens que são nossos amigos dos homens com quem nos relacionamos mais... intimamente, seja a que titulo for. é uma diferença abissal.
O fim das relações... esse é o tema ideal para um tratado. mas o que eu acjo é que os nossos ex só se aproximam de nós para saber de sofremos, em alguma altura, com a partida deles. Quando nunca mais ouvimos falar deles... é porque não estavam nem aí. Ou então porque os magoámos muito.
bjs