segunda-feira, 8 de junho de 2009

“Sim, aceito ir contigo ao casamento… até que a morte nos separe”

A nossa colaboradora mais inspirada, a Vera, volta a 'atacar' com mais um texto!!!

As meninas crescem com o sonho de um dia um príncipe encantado num cavalo branco (na versão adequada aos tempos actuais: um tipo com emprego, com carro próprio e que tenha saído da casa dos pais) lhes sussurre ao ouvido “Sim, aceito casar-me contigo… até que a morte nos separe”.
Eu, que nunca vivi subjugada aos devaneios de me meter num vestidinho branco de cetim e folhos, fico-me por um anseio bem mais modesto mas igualmente complicado. Estou até em dizer que mais difícil que encontrar um noivo é encontrar acompanhante para um casamento. Um homem pode não se importar de meter a aliança no dedo, fingir ser fiel e pagar-nos as contas; mas quando se trata de engravatar-se e vestir a melhor fatiota para acompanhar à cerimónia (quase sempre entediante) uma menina que não lhes aporte nos pós-casamento nenhum benefício carnal já a história reza diferente.
Exagero? Deixo-vos os factos e digam de vossa justiça:
Estava eu em pleno encontro erótico com o meu sofá, ora me estendo para a direita ora me estendo para a esquerda, quando toca o telefone . Trimmmm!! (vamos usar o toque banal para escaparmos à dificuldade de imitar o som de um bebé a chorar… toque muito apreciado entre os admiradores do kitsch)
“blablabla.. meu casamento…blablabla..gostava muito que estivesses…blablabla… um dia muito feliz para nós”. Como compreenderão, tornou-se impossível recusar a minha presença. Mas logo nesse instante vislumbrei-me algumas dificuldades práticas…
“Então tenho aqui o convite para ti e para o Y” (chamemos-lhe assim para não ferir sensibilidades”
“Ah… eu e o Y terminámos há quase um ano”
“Então para o teu novo namorado”
“Princesa… não tenho. Sou uma mulher emancipada” (disse eu, para não ferir a minha sensibilidade)
“Deixa lá Verinha, vai haver muitos homens o casamento. Quem sabe não encontras lá um para ti”.
Pronto. Estava lançada às feras. Mulher sozinha (e desamparada?) apresenta-se em casamento povoado de homens. Mas a gota de água ocorreu na despedida de solteira. 48 horas a ouvir falar nas maravilhas das respectivas caras-metade: o que cozinham, se passam roupa ou não, onde foram nas férias, onde irão nas férias, e milhentos outros pormenores que só colhem o interesse de quem está apaixonada. Perante a minha ansiedade em dar por findo o fim-de-semana levantaram o sobrolho: “Estás com pressa??? Tens encontro com quem? “ (pois se eu não tenho namorado também não tenho encontros… óbvio… ). Lá expliquei pacientemente (enfim, com a paciência, ou a falta dela, que me é mundialmente reconhecida) que o tinha um tête a tête privado à minha espera em Coimbra, com o PC e vinte mil livros.
“És mesmo workaholic. Eu vou é passar o resto do Domingo a namorar”.
Eu também iria. Se tivesse com quem. Não tendo, fico-me pelo tête a tête. Mas nesse Domingo à noite decidi que não iria ao casório sozinha nem que a vaca tossisse. Ora, como as vacas não tossem, tinha mesmo que arranjar acompanhante.
Depois de muitas recusas – desde o funeral do peixinho até antecipações de doenças, tudo serviu de desculpa – a primeiro a cair na minha rede tentou, num súbito, coup d'état, enredar-me a mim: “O que era giro era que nos apaixonássemos no casamento”. Sabem aquele arrepio que nos percorre a espinha? Senti-o na altura. Antevi cenas embaraçosas em plena cerimónia, olhares melosos durante o jantar sob a mirada atenta dos meus pares (já referi que era um “casamento de trabalho”, cheio de coleguinhas e chefes?), dramas alimentados pelo álcool, telefonemas no dia seguinte…”Sabes que mais? Pensando bem vou sozinha. Eu sou feminista e tudo”.
Mas não ia. Claro que não. Como disse, as vacas não tossem. Novas negas. Novas desculpas, algumas envolvendo raptos alienígenas. A minha próxima vítima estava prestes a resolver-me o problema quando a quase-namorada deixou bem claro que nunca passaria do “quase” caso ele teimasse em acompanhar-te.
À beira do desespero uma alma caridosa consegue finalmente angariar-me companhia masculina no seio do seu leque de amigos. E lá fui eu. Eu e ele. E correu tudo bem. A melhor companhia que uma menina pode desejar. Sem pressões nem chantagens. E quando ele me disse “Sim, aceito ir contigo ao casamento”, senti-me a não noiva-mais feliz do mundo.

3 comentários:

  1. no meu último casamento concluí que o um homem não deve ser um investimento a longo prazo: era notório que nós -as mulheres- estávamos a anos de luz dos nossos maridos/namorados/acompanhantes. nós lindas,eles gordos e carecas. neste momento sou a favor do príncipe a leasing com opção de compra no final ou troca por um modelo mais recente...

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  2. Nossa... estou passando por isso nesse exato momento. Tentando achar uma alma caridosa que queira ir a um casamento onde as pessoas insistem em dizer q vc é mega encalhada e sem acompanhante. Péssimo...

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