“Olá, o meu nome é V e sou uma ex-tristodependente. Estou em recuperação. Este é o meu 30.º dia sem depressão”
Todos nós ficamos tristes. Mas para alguns de nós a tristeza pode transforma-se a qualquer momento numa depressão profunda, com perda de peso, choro, noites em claro, e tudo aquilo a que uma boa depressão dá direito. Os comuns mortais derramam um par de lágrimas e seguem o seu caminho. Alguns de nós, porém, lançam-se em queda livre num abismo e enquanto não batem no fundo mais fundo dos fundos não emergem à superfície. Não que sejamos pessoas depressivas, lúgubres ou soturnas. Pelo contrário. A nossa felicidade supera igualmente a vossa, é arrasadora. Simplesmente, é como se qualquer emoção fosse levada até aos píncaros. E o que vale para o riso vale igualmente para as lágrimas.
Costumo pensar em mim como uma espécie de addicted, com a diferença de que a minha adição é a tristeza. Gosto dela? Sim. Sempre pensei que são os momentos tristes que melhor nos fazem apreciar a nossa felicidade. Posso viver sem ela? Com a sua total ausência penso que não, mas sem dúvida que gostaria de a ter mais afastada. Domina a minha vida? Hoje já não.
Porque estou consciente disso apenas me deixo submergir na depressão durante um de par de horas. Um fim-de-semana no máximo. Porque estar deprimida é um luxo, e nem todos nos podemos dar a esse luxo. Eu, de todo, não posso. Sou como um alcoólico em recuperação. Ele sabe que não pode sequer beber um copo de vinho porque estará a abrir a porta a perigos inimagináveis. Passado uns meses autorizar-se-á a beber um copo, mas nunca poderá cair ébrio. É difícil. Para ele um copo nunca será apenas um copo, à vontade de seguir-se-á o desejo de muitos. Ele entra em coma alcoólico; eu entro em coma depressivo. Por isso aprendi a disciplinar-me. Não sei se o controlo das emoções me torna mais fria e menos espontânea, mas tenho a certeza que me torna mais forte. Se a tristeza é a minha debilidade só lhe posso dispensar um prazo muito circunscrito do meu tempo de vida. Hoje em dia dou a mim mesmo um minuto por dia, em regra à noite, antes de adormecer. Não mais. Quem manda sou eu, não o vicio.
Da última vez que me aconteceu um desastre emocional entrei em pânico. Mais do a que a tristeza em si era o temor daquilo que se lhe seguiria. Autorizei-me a deprimir durante um fim-de-semana. E na 2.º feira pintei os lábios, disfarcei as olheiras e saí para a rua. Porque ninguém gosta de fracos. A sensibilidade é admirável, mas a fraqueza não. A vulnerabilidade até pode ser interessante, mas a debilidade é tremendamente aborrecida e monótona. Nenhum dos restantes seres humanos é obrigado a suportar os meus devaneios depressivos, sob pena de um dia eu me transformar em mais uma personagem de novela mexicana. E haverá sempre aqueles que passarão por uma fase de júbilo com a nossa angústia.
Nunca estive numa reunião de alcoólicos anónimos mas nos filmes falam sempre dos 12 passos e do célebre “um dia de cada vez”, e é assim que procuro gerir a minha adição. Não sei quanto tempo me conseguirei aguentar assim, mas sei que hoje ainda não fui derrotada.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Muito bom, Vera, muito bom
ResponderEliminar