Conhecer os pais dele é sempre complicado. Não para mim, que sou perfeita. Eu penso que sim. O meu papá e a minha mamã pensam que sim. Logo, será de prever que os outros papás e as outras mamãs também assim considerem? Ou não?
Sempre encarei com extrema confiança o momento em que se conhecem os pais. Talvez porque nunca tenha perdido um segundo sequer a comprar-me com a ex do meu actual. Chamem-lhe egocentrismo, mas eu prefiro falar em “auto-consciências das minhas potencialidades”. Porém, quando me apercebi que estava a ocupar o lugar de uma menina prendada, tremi. Quando a bendita da ex é uma exímia dona de casa, pouco dada a saídas nocturnas e extravagâncias afins, sem grande experiencia no campo amoroso, recatada e discreta, damos por nós a pensar que neste campeonato dificilmente ganharemos a taça, pelo menos quando o júri seja a mãe, a tão temível “mãe”, vulgo (potencial) “sogrinha”.
Com calma, Vera, com calma. Tu tens um mestrado, publicas livros e dás conferências. Viajas por todo o mundo e és perfeitamente autónoma em termos económicos. Não és tu a nora ideal? E a pouco surpreendente resposta parece ser: NÃO. Porque eu já tive namorados. Porque eu tenho alguns furos no corpo e alguns desenhos na pele. Porque eu mal sei cozer um botão e deixo queimar o arroz (já agora, se alguém souber como se recupera um tacho esturricado…).
A verdade, nua e crua, é esta: para as mães deles, que por muito boas que sejamos, nunca estaremos suficientemente apta a cuidar do “menino”. Não fazemos sopinhas como elas, nem passamos camisas como elas, nem temos a paciência delas. Em suma, não há juiz mais exigente do que a mãe do nosso amor. Porque o bom do marmanjo pode ser um trintão com mais de 1,90m, mas para elas há-de ser sempre o “menino”. E nada é bom demais para ele. Muito menos nós. Já a ex… quem sabe…
Chegada aqui concluí que tudo aquilo que enche os nossos pais de orgulho passa ao lado das sogras. Pois que interessa que eu seja citada em acórdãos quando nem um ensopado sei fazer? De que me serve a mim ser fluente em várias línguas quando mal sei distinguir uma agulha de tricot de uma agulha de crochet? E já nem menciono as 20 flexões que faço sem apoiar os joelhos porque, em boa verdade, até ao lado dos meus pais isso passa.
As relações entre sogras e noras podem ser uma autêntica Faixa de Gaza. Há quem leve a mal que não nos levantemos para ajudar a levantar a mesa, mesmo que o próprio filho permaneça confortavelmente sentado a palitar os dentes. Convenhamos, ou se levantam os dois, ou apenas ele, ou ninguém. Mas nós seremos sempre as convidadas. De modo que nada nos deve ser exigido, e tudo o que se faça para além disso é uma gentileza que parte da vontade própria. Há quem queira uma companhia para as compras, que incluem naperons e tacinhas de vidro, matéria na qual sou evidentemente perita. Há quem procure uma confidente para se queixar do marido, como se nós não tivéssemos queixas suficientes da cria. Há quem anseie por uma menina que ocupe o seu lugar de protectora/empregada doméstica/ faz tudo. Há quem, em contrapartida, veja em nós potenciais ameaças ao seu papel avassalador e que, por conseguinte, prefira noras sossegadinha no seu canto, que não atentem contra o seu reinado matriarcal.
Mas também existem situações de autêntica paixão. Não falta quem confidencie que o que mais lhe custou ao terminar a relação foi cortar os laços com a nova família. Eu própria já estive “apaixonada” por uma potencial sogra, e no finalzinho custou-me tanto deixar a mãe dele quanto deixá-lo a ele.
Resta a questão crucial: Que procuramos nós numa sogra?
Quanto a mim, só peço que eduque a sua cria de forma a fazer-me feliz, o que pode ter múltiplos sentidos, conforme a potencial felizarda. A nossa felicidade pode passar por alguém que nos leve o pequeno-almoço à cama ou que escute as intermináveis divagações sobre o último projecto de trabalho, isso já depende de cada uma. Mas uma sogra que consiga este feito bem merece um lugarzinho no coração.
Que procuram as sogras em nós? Quero crer que exactamente o mesmo: alguém que torne o seu menino feliz, mais uma vez, seja lá o que isso signifique.
Pois é!!! Aparentemente nunca nenhuma mulher está devidamente à altura daquilo que as mães consideram como refinado cuidado que o "menino" merece.
ResponderEliminarE o mesmo de diga/aplique quando falamos da relação genro/sogro/a.
Minha querida, não me parece que seja por saberes fazer bacalhau de 1001 maneiras ou qualquer outra iguaria (digo eu que, como bem sabes, já houve alturas em que pensei dedicar-me seriamente à arte culinária não para agradar a sogra mas para agradar o estômago dele!), ou até mesmo porque reconheces os naprons e o tipo de agulha/lã,..., que a sogra te vá dar "a taça".
Caramba, no fim de contas, hoje em dia, quase tudo se compra feito!
O que não se compra e deveria ser o mais importante para a/o sogra/o é esse estado de felicidade, leveza que a pessoa que está connosco nos produz, senão todos os dias (sejamos realistas!), em muitos deles.
Beijinhos enormes minha querida.
Lena
Pois, vejo que esta questão da sogra/nora é exactamente idêntica à da sogra(o)/genro...
ResponderEliminarO que vale é que a escolha é feita pelas filhas (ou filhos) e não pelas mães ou pais ...;)))