Ainda hoje são os maus rapazes que nos dão volta à cabeça. Recordo uma amiga que, perfeitamente desesperada, me falava do seu dilema durante um jantar: ficar com o homem que a tratava como uma princesa, ou com o sacana que a desprezava? O primeiro era um tipo amável e gentil, que queria conhecer a filha dela, pormenor este capaz de derreter qualquer mulher. Para evitar que a coitadinha se levantasse e fosse a correr para a casa lavar a cabeça com o seu champô especial para cabelos pintados e untar-se com o seu creme especial para peles secas, chegara ao ponto de encher o armário da casa de banho dele (e todas sabemos como eles veneram o espaço dos respectivos armários, com os diversos frascos de after-shave e comprimidos comprados pelas mamãs) com os ditos produtos, tudo da melhor qualidade, e especificamente dirigidos para mulheres de cabelos pintados e pele seca. Já o outro… bem, o outro, tinha namorada, ou melhor, tinha “espécies de namoradas”, recebia telefonemas estranhos durante a noite, ignorava-a em público, tratava-a com rispidez e aparecia e desaparecia conforme lhe desse na cabeça. Porém, ele era um bad boy, de modo que todas estas gafes se tornavam aspectos deliciosos de um rufia da pior espécie.
Que digo eu disto? Been there, done that… and than I grew up.
Tive a minha época áurea de maus rapazes, onde qualquer tipo que desafiasse a ordem estabelecida e se tornasse inacessível aos meus encantos me parecia a 8.ª maravilha do mundo. Assim se explica que tenha aguentado um namorado libanês que só faltou enfiar-me numa burka, ou um outro que me traiu com meia cidade e tentou com outra meia. E eu perdoava constantemente, na esperança de ser eu, euzinha, a tornar aqueles meninos maus em meninos bons. Porque acho que no fundo é isso que nos leva a gostar deles: a expectativa de sermos salvadoras da pátria, heroínas nacionais de um coração rebelde.
Gente problemática é muito mais interessante do que gente com boa onda. Vejam-se os romances de filmes e livros: não há histórias de amor que nos falem de relações pacificas e felizes. São todos amores tortuosos, com parceiros abusivos, cheios de traumas de infâncias, que descarregam nas virtuosas donzelas ódios pela mãe, pela prima, pela tia e pela avó. Se nos filmes é assim, é óbvio, mas óbvio mesmo, que na vida real não pode ser de outra forma. As mulheres gostam de coisas complicadas. Por isso procuramos relações que nos fazem viver no abismo, onde nunca sabemos o que pode acontecer, não sabemos onde pode ele estar, com quem, em suma, quando nos vai deixar. E é esta adrenalina que vai alimentado a nossa paixão, há falta de alguma coisa mais substancial que o faça.
E quanto mais inteligentes são as mulheres, maior o grau de complicação que procuram. Dito isto, confesso que devo estar a “desinteligentar”. Porque hoje em dia o que me arrepia são os bons rapazes. Os que nos revelam valores e princípios que nós desejaríamos ter. Os que nos levam o pequeno-almoço à cama. Os que aguentam pacificamente as nossas horas de compras sentadinhos na esplanada, prestes a definhar. Os que desmarcam jantaradas com amigos só para nos fazer festinhas na barriga porque estamos doentes. Hoje que vão até ao fim do mundo para comprar o champô que melhor cuida dos nossos caracóis. Hoje acho isso tremendamente apelativo aos sentidos
Ainda me recordo da noite em que jantava com o meu “good boy” e lhe perguntei porque carga de água tinha decidido agora, já trintão e com uma carreira estabelecida, mudar completamente de vida e tirar finalmente o curso que sempre sonhara desde pequenino. Enfim, porque não o tinha feito logo com 18 anos, como o comum dos mortais, e perdera tanto tampo num trabalho que não apreciava particularmente? “Porque o curso é caríssimo – respondeu ele – e depois de tudo o que os meus pais fizeram por mim não lhes podia impor mais este encargo absurdo”. E eu babei. Note-se que não foi por causa do bolo de chocolate que tinha à frente, mas por causa da rectidão moral do homem que tinha à frente.
Não há coisa mais sexy do que gente com valores, que sabe bem de onde vem e para onde vai, que me olha como uma princesa e que trata os dragões que tenho comigo (e já são 4) como se fossem bichinhos de estimação.