terça-feira, 1 de setembro de 2009

Porque é que a TV CABO me dá náuseas

Vivo sozinha. Corrijo. Vivo sozinha quando não estou acompanhada pelos técnicos da TV CABO. É que a TV CABO é uma empresa que tem os seus clientes em tão elevada consideração que quando nos pressente mais sozinhos logo cria motivos capazes de justificar a presença assídua de técnicos, a tal ponto que já meti mais um prato na mesa para os fazer sentir confortáveis. Ora é ó telefone que fica mudo, ora a internet que cai de 5 em 5 segundos, ora a televisão que faz um ruído tão ensurdecedor que me deixou os ouvidos a apitar durante dias. As hipóteses são múltiplas.

Face a tudo isto já me perguntaram várias vezes porque não deixo, pura e simplesmente, de ser cliente. Um dos motivos é óbvio: estando a empresa em situação de quase-monópolio torna-se complicado escapar às malhas da Piovra.

Mas, mais do que isso, nesta altura do campeonato parece-me que deixar de ser cliente era a saída fácil, mas que não satisfaria a minha revolta. Perder um cliente não é muito. Mas ter um cliente como eu à perna pode conduzir a suicídios. É que eu, tendo eu dois cromossomas X, tenho a capacidade de me ocupar (e com sucesso) de duas tarefas ao mesmo tempo. Assim, consigo escrever a tese e ao mesmo tempo insultá-los ao telefone. Ou seja, posso perfeitamente passar o dia ao telefone a ocupar-lhes as linhas.

Conto até uma história para ilustrar esta minha tenacidade em não abandonar a TV CABO. Há alguns anos mudaram-me as condições do contrato sem ter sido previamente avisada que aquilo que eu contratara era apenas uma promoção, quando eu pensava tratar-se de condições que vigorariam durante toda a relação contratual. Depois de uma hora na loja em amigável conversa com um torturado funcionário (posso revelar que a certa altura me disse, de olhos húmidos: “A senhora está a ser má para mim!”) lá veio a gerente de loja, ou lá o que se chama a essa meninas aperaltadas que acham que ser responsável por uma loja TV CABO está logo abaixo de ser presidente do mundo. E lá vem ela, pronta a enfrentar a Fera. No caso, a Vera. E explicou-me que as condições que me queriam impingir estavam no meu contrato. Contrato? Qual contrato? (Papel? Qual papel? O papel). Pois se eu, como praticamente todos nós, apenas contactara telefonicamente com a TV CABO, o meu contrato era, puramente ,verbal. Não havia condições escritas com a minha assinatura por baixo. “Não, a senhora tem um contrato escrito connosco”, garantiu-me a esperta da menina. E eu, ingenuamente, saquei da mala o documento que o técnico que instalara o serviço deixara lá a casa, a certificar a sua presença. “Está a referir-se a isto?”, perguntei eu. “É isto o contrato?”, indaguei, de olhos bem abertos e com ar patético. “Sim, minha senhora, esse é o contrato”. – Respondeu ela, satisfeita por se conspurcar na minha suposta estupidez. “Bem – e veio ao de cima o meu melhor tom paternalista – isto não me parece que seja um contrato. Mais, atrevo-me a dizer que não é. Sabe porquê? Porque eu sou jurista. Melhor, eu crio juristas. E chumbo quem me diga que este papelinho é um contrato”.

Pontos nos i’s a menina tornou-se imediatamente mais simpática. Mas eu não. Eu ainda agora começara. E depois de uma dura batalha, quando já abandonava o edifício (Elvis left the building) virei-me para trás e disse:

“Nesta altura do campeonato os senhores já estão desertos de me ver pelas costas. Clientes como eu dão mais dores de cabeça do que lucro. Mas vou-lhe dizer o seguinte: isto tornou-se pessoal. Por conseguinte, eu só vos deixo em paz no dia em que as vacas tossirem. Ora, a senhora não sabe, que é limitada, mas eu esclareço-a: as vacas não tossem. Logo, vão ter-me à perna uma infinidade de anos”.

Tenho dito.

Por isso não largo a TV Cabo. Por isso, não perdoo as falhas da TV CABO. Por isso espalho pelo mundo a incompetência e baixo nível da TV CABO.

É que as vacas não tossem…

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