quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

FIRST LOVE IS THE DEEPEST?


Lamentava-se há dias um amigo de como gostaria de ter sido alguma vez o primeiro amor da vida de alguém. Respondi-lhe que, se o não tinha sido até agora, já dificilmente o seria. É que depois dos trinta todos aqueles com quem nos deparamos pelo caminho já trazem consigo uma pesada bagagem emocional, e muitas vezes física. Ao lado de desgostos, alegrias, momentos de felicidade imensa, histórias mal contadas e, decididamente, mal terminadas, por vezes carregam ainda mulheres das quais se divorciaram e filhos dos quais nunca se vão divorciar (de modo que, quanto a estes, só temos duas hipóteses: ou os amamos e vivemos com eles ou os odiamos e vivemos com eles).
Isto para dizer que a utópica possibilidade de ser o primeiro amor de alguém vai diminuindo abruptamente com o decorrer do tempo, dada a quase total improbabilidade de aos 40 anos encontrar um espécime da nossa mesma idade que até então se tenha furtado a todo o tipo de contacto amoroso,
Mas, para além disso, quem quererá efectivamente ser o primeiro amor de alguém? Ou seja, escapa-me o interesse em ser o estádio inicial de um percurso que obviamente não vai terminar ali e, se terminar, tal deve-se a um erro crasso de julgamento de quem pensa que a pessoa que primeiro nos encanta vai ser aquela que mais nos encanta. Quando ficamos com a primeira coisa que nos surge pela frente nunca temos ponto de comparação. Pensamos que aquela é a melhor que existe, mas creio que secretamente se mantém o desejo de experimentar outras. Pode bem suceder que no final regressemos ao tal primeiro amor, mas só devemos tomar essa opção depois de arregalarmos os olhos para o mundo, nos apaixonarmos e desapaixonarmo-nos, e concluirmos por fim que aquele é o nosso lugar. Não podemos é ficar porque temos medo de partir.
Pela minha parte nunca quis ser um primeiro amor. Bem pelo contrário, quero ser o último. O último amor de alguém que já conheceu muitos outros na vida e que ao chegar a mim vai poder dizer, conhecedor do que existe por aí e do que viveu com essas outras pessoas, que eu sou aquela com quem quer ficar. Este juízo não pode ser feito nem aos 18 nem aos 20 anos, quando o nosso mundo é tão pequenino que qualquer presença o enche.
Quanto a mim, posso agora finalmente apreciar aquele com quem estou precisamente porque estive com outros antes. Mas segui o meu caminho sem eles. Do meu primeiro amor tenho recordações vagas. Nunca me vai desaparecer da memória, é certo. Não esqueço o meu primeiro beijo, tal como não esqueço a primeira vez que andei de avião ou que acordei de ressaca. Mas a verdade é que há muita gente que passou pela minha vida e que não consigo apagar. Não significa isto que tenham sido os meus maiores amores. A razão pode ser, simplesmente, terem sido os que mais me magoaram. Ou os que mais me mentiram. Há tantos motivos, e tão relevantes, pelos quais não esquecemos alguém que muitas vezes o motivo torna-se bem mais importante do que esse alguém.
Todos os amores são profundos enquanto duram. Não têm que ser bons. Podem ser profundamente maus. Os meus eleitos são os profundamente intensos. Depois de terminaram pode restar uma leve lembrança ou uma marca impressiva. Aqueles que nos marcam tornam-nos, umas vezes, melhores pessoas, outras vezes piores. Nunca ficamos exactamente iguais. É o conjunto de todas essas marcas, como uma manta de retalhos de paixões que o nosso amor presente vai encontrar. Esse amor presente é sempre o maior, o mais profundo, o mais intenso. E se o for o suficiente será também o último.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comentem... mas não se estiquem!