sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

MOMENTOS NA VIDA DE UMA BARBIE


Descobri que o talk-show da Tyra Banks passa logo pela manhã no canal das meninas. Ainda para mais fiz esta descoberta genial no dia em que ela nos ensinava como encontrar o homem perfeito. Imperdível!
De modo que, enquanto me enchia de pão (integral) com compota e leite (de soja) com chocolate tentava ao mesmo tempo decifrar os misteriosos enigmas da mente masculina. Era o pequeno-almoço perfeito: euzinha, a Tyra e autênticas lições de vida.
De repente engoli de um trago... ups!!! A conferência. Entusiasmada como estava com a hipótese do homem/príncipe/não-sapo nem dei conta de como o tempo passara depressa e dei por mim atrassadérrima (acho estes “érrimos” à tia do mais chique que há) para uma conferencia onde, vá-se lá saber porquê, participava eu com a minha palestrazinha sobre um desses temas comezinhos e consensuais de que tanto gosto de falar: comunicação social (ui!), segredo de justiça (ui, ui!) e escutas telefónicas (agora faltam-me “uis”). Caramba, que raio de dilema: desligar a televisão e ficar sem saber como encontrar o meu príncipe ou, em contrapartida, mentalizar-me intelectualmente para falar perante um auditório inteiro sobre um tema que estudava afincadamente desde há semanas. A muito custo desliguei a TV e pus-me a caminho, argumentando e contra-argumentando comigo própria sobre as várias questões de que tencionava falar. E como se isto não bastasse, chego lá e dizem-me que afinal, além do vasto auditório, me espera um público maior, porque afinal contam comigo para uma entrevista na televisão nacional. “Sobre?” , perguntei eu, na vã expectativa que o tema fossem sapatos, malas ou sobremesas de dietas, tópicos nos quais sou versadíssima: “Segredo de justiça”, dizem-me, como se a reposta fosse óbvia. Mas porque é que nunca ninguém me pediu para dar uma conferência sobre um daqueles assuntos? Será que não há quem se interesse por eles?... Hum….
É muito difícil para uma mulher ser uma Barbie nos dias de hoje. Eu bem quero dar asas à futilidade e preocupar-me apenas com coisinhas pequeninas e leves. Mas não, caem-me sempre em cima estas questões contundentes, densas, e algumas terrivelmente entediantes.
Convenhamos: não há nenhuma lei que me proíba de saber ler, escrever e contar até 10 (e umas coisinhitas mais) e, ao mesmo tempo, ser coquette, gostar de tolices, de dizer alarvidades intelectuais e de tardes de compras, cheias de tops brilhantes e calças justas. Onde é que está escrito que toda a mulher com cérebro activo é forçada a vestir-se como a avó? O que eu quero é as roupas da Madonna (no seus dias mais castos, se é que isso existe).
Fosse eu uma daquelas meninas que nas discotecas fazem publicidade a bebidas de cores estranhas e já nem ninguém estanharia os meus devaneios de Barbie. Mas como tive o azar de nascer com dois dedos de testa e parece-me que estou fadada a tratar de coisas sérias, a ser circunspecta, a ter conversas austeras, e a assumir sempre comportamentos dignos de tal. Ora, eu só quero ser eu.
E por muito interessante que me pareça o segredo de justiça, e documentários sobre a ex-União Soviética, e debates políticos na SIC, e filmes franceses com histórias que ninguém entende e onde tudo se passa a 10km à hora, a verdade é que, ao fim do dia, só já tenho cabeça para fast food intelectual. Dêem-me uma sitcom que não me faça pensar ou um show sobre bisbilhotices da vida das celebridades. Quero programas de moda e comédias com teenagers. Passe-me a Elle e a Vogue, que, apesar de tudo, sempre me pareceram leitura mais elevada do que a Maria. Deixem-me encher a mala (tamanho XL, como convém) baton e espelhos de bolso. de Enfim, deixem-me ser uma Barbie, nem que seja por um bocadinho.
Passar o Domingo no Museu, ou a debater filosofia existencialista, será certamente muito estimulante. Divertido, arrisco mesmo. Mas depois de uma semana inteira a dar o melhor de mim numa profissão intelectualmente extenuante, e mais ainda, a discutir coisas que passam ao lado do comum dos mortais, eu só quero mesmo vestir a micro-mini-saia e sair para dançar, ou deitar-me no sofá a ver na TV os filmes lamechas de Domingo à tarde. Arrisco até a dizer que sou bem capaz de engolir uma novela, desde que tenha uns tipos jeitosos.
Uma Barbie? Sim. E…? Alguém perde o sono com isso? Bem me basta a mim perder o sono esta noite por ter ficado sem as preciosas lições que toda a mulher deve saber sobre como encontrar o homem ideal.

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