A Outra é aquela que eu não sou.
A Outra senta-se onde um dia eu me sentei, deita-se onde me deitei e é amada como eu fui. A Outra vive a vida que era para ser minha. A Outra é tudo aquilo que eu fui e que um dia quis ainda ser. E mesmo quando o deixei de querer, continua a ocupar um lugar que sinto que é meu, e não dela.
Durante muito tempo aguentei ressentida a presença da Outra. Nunca a odiei. Não porque esse sentimento esteja completamente afastado da pessoa que sou. Gostava de poder dizer isso, mas estaria a mentir. Mas porque a dor era tão grande que não deixava espaço para o ódio. Há dores assim. Consomem-nos tanto que aniquilam qualquer outra emoção, positiva ou negativa. Simplesmente, doía-me vê-la. Mais ainda, doía-me imaginá-la. Não invejava o sítio que ela ocupava, porque antes já eu lá tinha estado e bem sabia que não era, definitivamente, o meu sítio. Mas havia ali um sentimento de ter sido usurpada, espoliada, expropriada, enfim, qualquer outra forma verbal que exprima a excisão de uma parcela que pensamos, ainda que ilusoriamente, que nos completa e define. Sempre soube que não foi ela a responsável pelos meus males. Não fora ela a rejeitar-me, a magoar-me, a destruir o futuro que tinha já marcado no meu calendário de vida. Mas por algum motivo era tão mais fácil culpá-la a ela do que a ele, e foi isso que eu fiz.
Não que alguma vez tivesse desejado verdadeiramente trocar de lugar com a Outra. Nem quando andei perdida. Muito menos quando me encontrei. Mas o res(sentimento) pela Outra esteve sempre lá. Independentemente de quem ela fosse. A Outra foi loura, morena, mais alta, mais baixa… pouco importa. Não é o ADN que determina quem é a Outra. Tal como o Presidente da República não é uma pessoa mas um cargo, também ela não é uma mulher, mas uma posição.
Nunca deveria ter querido saber coisas acerca dela. Mas há uma parte de mim (de nós) que vibra com o desvendar de pormenores mórbidos. Todo e qualquer detalhe se tornou essencial: como penteava o cabelo, como usava os lenços, qual o timbre de voz. E assim fui guardando na memória vários mínimos pormenores das diversas Outras que se sucediam. No final só havia a Outra, um ente abstracto que me gastava os pensamentos.
Se a minha vida fosse um filme – indiano ou outro qualquer – provavelmente um dia far-lhe-ia uma espera, puxava-lhe os cabelos e, se o realizador fosse o Tarantino, era bem capaz de lhe passar por cima com as rodas do meu jipe. Mas como habitamos na vida real limitei-me a sonhar - ou melhor, a pesadelar – com ela e a seguir-lhe os passos com aquele olhar perdido que durante tanto tempo viveu na minha cara.
Como digo, nunca lhe quis mal. Todos os meus neurónios estão conscientes de que ela é tão culpada quanto eu neste drama de novela das 7. Menos culpada ainda. O silêncio da Outra neste enredo é o silêncio dos inocentes. Dito isto resta explicar porque me batia o coração com a sua passagem e me sentia morrer sempre que alguém a trazia à baila.
A Outra é aquela que eu não sou.
Mas não posso esquecer que também eu acabo por ser a Outra de alguém.
A Outra senta-se onde um dia eu me sentei, deita-se onde me deitei e é amada como eu fui. A Outra vive a vida que era para ser minha. A Outra é tudo aquilo que eu fui e que um dia quis ainda ser. E mesmo quando o deixei de querer, continua a ocupar um lugar que sinto que é meu, e não dela.
Durante muito tempo aguentei ressentida a presença da Outra. Nunca a odiei. Não porque esse sentimento esteja completamente afastado da pessoa que sou. Gostava de poder dizer isso, mas estaria a mentir. Mas porque a dor era tão grande que não deixava espaço para o ódio. Há dores assim. Consomem-nos tanto que aniquilam qualquer outra emoção, positiva ou negativa. Simplesmente, doía-me vê-la. Mais ainda, doía-me imaginá-la. Não invejava o sítio que ela ocupava, porque antes já eu lá tinha estado e bem sabia que não era, definitivamente, o meu sítio. Mas havia ali um sentimento de ter sido usurpada, espoliada, expropriada, enfim, qualquer outra forma verbal que exprima a excisão de uma parcela que pensamos, ainda que ilusoriamente, que nos completa e define. Sempre soube que não foi ela a responsável pelos meus males. Não fora ela a rejeitar-me, a magoar-me, a destruir o futuro que tinha já marcado no meu calendário de vida. Mas por algum motivo era tão mais fácil culpá-la a ela do que a ele, e foi isso que eu fiz.
Não que alguma vez tivesse desejado verdadeiramente trocar de lugar com a Outra. Nem quando andei perdida. Muito menos quando me encontrei. Mas o res(sentimento) pela Outra esteve sempre lá. Independentemente de quem ela fosse. A Outra foi loura, morena, mais alta, mais baixa… pouco importa. Não é o ADN que determina quem é a Outra. Tal como o Presidente da República não é uma pessoa mas um cargo, também ela não é uma mulher, mas uma posição.
Nunca deveria ter querido saber coisas acerca dela. Mas há uma parte de mim (de nós) que vibra com o desvendar de pormenores mórbidos. Todo e qualquer detalhe se tornou essencial: como penteava o cabelo, como usava os lenços, qual o timbre de voz. E assim fui guardando na memória vários mínimos pormenores das diversas Outras que se sucediam. No final só havia a Outra, um ente abstracto que me gastava os pensamentos.
Se a minha vida fosse um filme – indiano ou outro qualquer – provavelmente um dia far-lhe-ia uma espera, puxava-lhe os cabelos e, se o realizador fosse o Tarantino, era bem capaz de lhe passar por cima com as rodas do meu jipe. Mas como habitamos na vida real limitei-me a sonhar - ou melhor, a pesadelar – com ela e a seguir-lhe os passos com aquele olhar perdido que durante tanto tempo viveu na minha cara.
Como digo, nunca lhe quis mal. Todos os meus neurónios estão conscientes de que ela é tão culpada quanto eu neste drama de novela das 7. Menos culpada ainda. O silêncio da Outra neste enredo é o silêncio dos inocentes. Dito isto resta explicar porque me batia o coração com a sua passagem e me sentia morrer sempre que alguém a trazia à baila.
A Outra é aquela que eu não sou.
Mas não posso esquecer que também eu acabo por ser a Outra de alguém.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentem... mas não se estiquem!