sexta-feira, 15 de maio de 2009

Just another blond girl in Germany (ideias soltas sobre a experiência alemã)

A Vera voltou da Alemanha com mais um contributo para o blog :)! Que alguém ande inspirado!!!

(Como já começa a ser hábito escrever estas crónicas do avião, cá vai mais uma elaborada no plano aéreo)

Por motivos de trabalho tive que me deslocar a Colónia. Contrafeita, devo dizer. Não sou fã da Alemanha, nem de alemães, nem da língua, nem de bratwurst, nem de nada, digamos assim. Aqui, de onde vos escrevo, mordo a língua por tudo o que disse. Até fazer sangue. Porque estava redondamente enganada e cheia de falsas convicções…
A primeira surpresa desta viagem foi a lista de pessoas simpáticas que fui encontrando pelo caminho. Um dos motivos pelos quais continuo a gostar tanto de viajar prende-se com o facto de sempre encontrar pessoas gentis, que estão dispostas a alterar os seus planos para me encaixar a mim. Em Colónia houve quem se desviasse do caminho de casa para me indicar uma morada; um professor conseguiu incluir-se na sua pesada agenda; uma nova amiga arranjou tempo para me mostrar a cidade. Tenho tido a sorte de me cair em cima sempre o que há de melhor nas pessoas, incluindo os alemãs (e ainda estou só na parte espiritual).
Apesar dos meus preconceitos com carnes vermelhas, lá acabei por experimentar a especialidade da casa: carne de porco fumada com cerveja alemã. Aquilo que num primeiro pensamento me daria náuseas soube-me, efectivamente, bem. Aliás, toda a comida alemã me soube bem. À minha boca e à minha anca, diga-se de passagem. Mordo a língua por todas as vezes que amaldiçoei cerveja….
Outro mito que caiu por terra foi o da suposta beleza das meninas. Minhas amigas – ressalvando as inegáveis excepções – falo-vos de criaturas feias, de gosto duvidoso e, eis aqui a melhor parte, muitas delas rodas baixas e ancas largas… just like us! Sim, a Claudia Schiffer não é, de todo, a alemã típica.
De tanto morder a língua, falo agora na língua. Até hoje resisti heroicamente a aprender alemão. Enfim, mantenho as aparências. Increvo-me em aulas, onde não vou, compro dicionários que não folheio, e agora até me deu para pagar traduções particulares que cada mês me deixam a conta bancária mais ínfima. Isto porque sempre achei o alemão um idioma bárbaro, duro, ríspido. De repente, a suavidade daquelas sílabas indecifráveis enchem-me os ouvidos. Quase estou pronto a ler a filosfia kantiana e heideggeriana na sua versão original.
Depois, o fantasma do nazismo. Acho que foi esse o principal motivo que tanto me fazia desgostar do povo. Mas todas as sociedades têm os seus momentos negros, e não vale a pena fustigarmo-nos eternamente pelos pecados dos pais. Devo até dizer que o povo, no geral, me pareceu um pouco tonto. No bom sentido, leia-se. Como aquele colega nerd, de óculos e borbulhas, que é o melhor da turma mas teima em esbarrar nos vidros. Custa a crer que tenham tido a pretensão de dominar o mundo. E, de novo, mordi a língua.
Mas a dentada que encerrará estas breves reflexões é mesmo daquelas de fazer sangue. Porque a gaffe em que incorre até ao momento em que finalmente vi a claridade era imensa. Assumo que sempre achei os cavalheiros alemães pouco interessantes. Demasiado pálidos. Demasiado sonsos. Demasiado sem-graça. Nada que se comparasse à lábia e ar gingão do macho lusitano. Minhas senhora, bastou sentar-me numa esplanada para descobrir ali maravilhas nunca antes vistas nesta nossa varanda para o Atlântico. Devo dizer que, das muitas vezes que me lamentava ao meu orientador sobre as dificuldades em aprender alemão, ele me respondia sempre, paternalisticamente: “Sabe, alemão só se aprende de duas formas: ou pelo berço (refere-se o senhor ao facto de se nascer alemão) ou por almofada (nem explico a que se refere…)”. E repetidamente tenho respondido: “Senhor Doutor, tendo em conta que eu já nasci há uns anos e que os alemães são tão feiinhos, morrerei ignorante”. Feiinhos? Agora é que mordo mesmo a língua! Ein deutch man für mich, bitte!

1 comentário:

  1. Até que enfim, alguém (além de myself que sempre gostou da língua), ve alguma graça aquele povo! Iupi!!!!
    Verinha, andavas distraída. É certo que a maioria não são deuses do Olímpo, mas como diria o George: "Há várias camadas em mim e não são todas baunihlha..."
    E mais, desconfio que aquela língua rude e àspera como dizias tem lá os seus encantos... provavelmente na almofada!? Atrevo-me a dizer, ainda que sem conhecimento "científico": Não só mas também!
    Ein sehr gross Kuss für alles!

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