terça-feira, 28 de julho de 2009

A LEVIANDADE DE DIZER QUE TE AMO

É incrível como as pessoas que julgamos mais sensatas e responsáveis abrem a boca para dizer que nos amam com a maior leviandade. Como se nos tivessem dito “fecha a porta” ou “está frio hoje”. Como se nada. Não sei se esperam que no dia seguinte nos tenhamos esquecido disso. Ou no ano seguinte. Ou na década seguinte.

Ainda hoje fico perplexa com a leveza com que se usam certas palavras. Não me refiro à mentira propriamente dita. Quero acreditar que as coisas bonitas que me têm dito ao longo destes anos não eram mentira, pelo menos que não o eram naquele momento. Que quem as disse acreditava piamente estar a ser sincero. Mas duvido que fosse aquele realmente o sentimento que lhes ia na alma. Um pouco como quando eu prometi à minha mãe que não faria mais nenhuma tatuagem: não menti descaradamente, não a tencionava enganar, mas uma parte de mim não estava bem certa de conseguir cumprir. Resultado: mais um dragão na perna.

A afirmação - sempre forte e assertiva – de que se ama alguém é uma das que mais leviana se tornou e, por isso mesmo, mais vazia. É que amar não é o mesmo que gostar. Eu gosto de gelados e de bolas de Berlim. Não os amo porém. Não seria capaz de partilhar a minha vida com um corneto, muito menos de dar a vida por uma taça de creme de pasteleiro. Desconfio que a confusão entre gostar e amar se deva ao “I love you” que povoa a nossa linguagem desde que vimos na televisão o primeiro filme de Hollywood. A partir daí “lovamos” tudo, desde os nossos jeans preferidos até à Coca-Cola, passando por pais, amigos e namorados. Acontece que na língua portuguesa o amor é um sentimento que vai para além da preferência, do gosto ou mesmo da paixão.

Como trabalho com palavras tenho o maior dos cuidados no momento de as utilizar. São a minha arma, o modo como enfrento o mundo. Há quem cante (já aqui confessei ter sido eleita a pior cantora do planeta), quem desenhe (eu fico-me por uns rabiscos nas margens das folhas), quem corra (restrinjo essa hipótese à necessidade de chegar a tempo a uma loja prestes a fechar), quem dance (aqui faço o gosto ao pé… e ao rabo…. a bem dizer, a tudo), quem cozinhe (digamos que nunca conquistarei um homem pelo estômago). Pois bem, eu escrevo e falo. Estejam certos que quando utilizo uma palavra nunca o faço por acaso ou de forma irreflectida. Por isso me custa tanto compreender que se delas se faça um mau uso. Dizer que amamos alguém que conhecemos na semana passada é o mesmo que usar sapatilhas com o vestido preto cintado. Não conjuga. Posso até acreditar em amor à primeira vista, mas não é à segunda vista que se sabe que se ama. Apenas passadas muitas vistas nos apercebemos disso e eventualmente até concluímos que tudo sucedeu logo na primeira. Mas essa resposta chega bem mais tarde.

Tão-pouco funciona dizer em voz alta “amo-te” para nos persuadirmos disso. É que se pode querer com todos as células do corpo amar alguém, mas se o coração não bombeia para esse alto de pouco serve gritá-lo em voz bem alta. Só vamos conseguir fazer ruído. E, pior do que isso, não nos convenceremos a nós, mas convenceremos o outro de que assim é.

Por isso não digam nada. Remetam-se ao silêncio. Vão gostando. Vão estando. Vão curtindo a pessoa. Mas se um dia a amarem, aí, digam-no. Porque o pior que pode acontecer é ela nunca vir a saber disso.

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