quinta-feira, 2 de julho de 2009

The Sweethest Thing

A crónica da minha Verinha. Que atravessa a cidade por mim, para me dar boleia, mesmo que não lhe apeteça conduzir. Por quem eu entro no NB só por meia-hora depois de já ter jantado e saído na Figueira. Leiam.

A minha melhor amiga é um menino. Sempre disse que ele daria o melhor namorado do mundo. Não estava enganada. Tive a confirmação disso quando há dias lhe liguei, morta de saudades, e lhe perguntei pelo programa de fim-de-semana. Ele respondeu-me que ia passar o sábado a casa dos avós da respectiva cara-metade. Em casa de outros avós que não os nossos… sendo que já tratando-se dos nossos o encargo pode ser doloroso…Pronto, o miúdo ensandeceu! “Sabes – murmurou ele, confidenciando o que eu afinal já sabia – não é que me agrade muito, até já tinha outros planos, mas é importante para ela”. Era importante para ela. E ele ia. Assim. Mais nada. Porque era importante para ela.
Naquele momento fui atacada por uma imediata vontade de comer arroz de marisco. E eu nem gosto particularmente de marisco. Ainda assim, durante um ano e nove meses engoli camarões semanalmente, por vezes, diariamente. Masoquismo? Talvez. O facto é que os restaurantes só cozinham este prato para duas pessoas. De modo que quem tiver um fraco pelo dito depara-se com poucas hipóteses: ou bem que desiste de vez do arroz, ou desenha duas bocas na sua cara e mais tarde se preocupará com os recém-adquiridos pneus, ou então angaria companhia para o ajudar na tarefa de esvaziar o tacho. Eu fui essa companhia. De pouco me servia percorrer a ementa em busca do manjar prefeito. Por ele ia olhar para mim com aqueles olhos de cachorro abandonado e eu, coração mole, lá perguntava, baixinho: “É o arroz, não é?”. “Se preferires outra coisa….”, respondia ele, invariavelmente. Eu até preferia. Mas preferia ainda mais vê-lo a ele feliz. E toda a gente sabe que a felicidade vem no fundo de um tacho de arroz, entre o mexilhão e o berbigão.
E esta é a coisa mais doce que se pode fazer por alguém. Cedências. Estar aberto a abrir portas que de outro modo fecharíamos. Fazer aquilo que não queremos só porque o outro gosta. Seremos todos nós masoquistas em auto-flagelação? Será que as relações se fundam no sacrifício? Não, de todo não. Mas é preciso ir para além do nosso próprio umbigo, tenha ele piercing ou não.
Gostar de alguém – um amigo, um irmão, um namorado – é querer fazê-lo feliz. Sem sacrifício. Sem cobrança. Dar passeios de mão dada mesmo que se tenha planeado um domingo esborrachado no sofá e que se considere o mão-na-mão tão foleiro quanto fios de ouro pendurados em peitos peludos. Jantar em casa de avós que nem chocolates nos dão. Saltar da cama mais cedo para deixar o pequeno-almoço preparado. Assistir a infindáveis casamentos de pessoas que nem conhecemos. Engolir arroz de marisco quando até já se tem um fóssil de camarão na língua.
A melhor coisa do mundo não é só fazer alguém feliz. É ficar feliz com isso também.

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