sexta-feira, 31 de julho de 2009

QUANDO O AMOR SE MEDE AOS QUILÓMETROS

As relações humanas são complicadas. Quando entre os meus ventrículos e os dele se intrometem centenas, por vezes milhares, de quilómetros, esta complicação torna-se um verdadeiro enigma de física quântica. Como é que se mantém a chama de uma relação à distância?
Convenhamos que a questão não é nova. Os nossos avós e os nossos pais já se depararam com estes dilemas, com a pequena agravante de existirem muitas vezes guerras pelo meio. Já nem falo dos nossos mais longínquos antepassados, que deixaram donzelas debruçadas de janelas de torres para ir por aí matar dragões (ou mouros, o que estivesse mais a jeito).
Claro que hoje em dia a questão está simplificada pela existência de comboios rápidos, viagens aéreas a preços low-cost, telefones, internet e Pc’s com webcam. Se assim é, porque é que eu não conheço nenhuma relação à distância que tenha desembocado num final feliz?
Comecemos pelas minhas, que já sou perita no assunto. O primeiro amor da minha vida era polaco, lindo e alto, espirituoso e… morador em Varsóvia. Durou 5 meses. E assim se inaugurou um longo rol de relações internacionais, desde brasileiros a angolanos, passando por um libanês. Todos os finais foram dramáticos e dolorosos. I should have known better…
Quando o amor se mede à distância, entre continentes ou entre países, ou mesmo entre cidades, temos que nos convencer, antes de mais nada, que estamos sozinhos. Tudo aquilo que os outros fazem a dois, nós teremos que fazer a um.
Nos jantares românticos somos nós e o sofá, eventualmente deixando que a televisão se junte quando estamos numa onda de ménage.
As noites frias, à falta de quem nos aqueça os pés na cama, são suportadas à custa de sacos de água quentes, soterradas em cobertores e lençóis térmicos.
Fins de semana na praia? Enfim, se formos sozinhas não corremos o risco de nos deitarem areia para cima, e lá se haverá de descobrir uma forma de espalhar bronzeador na parte traseira.
Saídas de sábado à noite? Temos a hipótese de saídas com as meninas, e lá vamos nós com a famosa seta luminosa a pairar sob as nossas cabeças, anunciando à rapaziada que o mulherio anda à solta, o que é particularmente embaraçoso quando as amiguinhas andam em busca de companhia masculina, porque então se torna difícil explicar aos candidatos a “companhia” que elas têm de facto luz verde na testa mas que a nossa está vermelha…como as casas de banho do comboio quando estão ocupadas. Saídas com casalinhos? Cortem-me já os pulsos. Resta aquele núcleo indefinido de meninos que oscilam entre os conhecidos e os quero-ser-mais-que amigo. O desejável é evitar os convites que daí venham. Mas a verdade é que passar as noites em casa à espera de um telefonema ou um beijinho na net pode arruinar a nossa sanidade mental. Por isso lá vem o dia em que cedemos, e aceitamos o tal simpático (e completamente inocente e despretensioso) convite para jantar, que na maior parte dos casos termina connosco a bater a porta do carro e uma voz masculina a gritar lá de dentro: “Mas ele nunca iria saber…”
Sim, é difícil manter um amor que se mede em quilómetros. Força de vontade, perseverança, firmeza, lealdade, honestidade, capacidade de aguentar infinitas horas de solidão, paciência, esperança em dias melhores, tudo isso se espera de nós. Falo, em suma, de super-mulheres. E de super-homens, porque acredito que tudo isto se aplica a eles também. Vale a pena? Não sei ao certo. Acredito que sim. Tenho fé que sim. Não sendo eu católica, e tendo que ter fé em alguma coisa, que seja na vitória do amor (já estão a vomitar? É que eu estou quase).
Até porque nada bate aquele momento em que entramos no comboio, a contar cada segundo que falta, com o coração a bater, tirando o espelhinho da mala de minuto a minuto para ver se estamos bem, na ânsia de transformar todos aqueles quilómetros em centímetros de distância.

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