quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mr and Mr Smith


Nos últimos casamentos em que estive presente as noivas iam lindas e radiosas, felizes por unir os respectivos destinos ao amor das suas vidas. E isso faz-me pensar porque motivo não podem sentir tal satisfação aqueles que amam alguém com quem partilham cromossomas. Que se opõe a isso?
Bem, desde logo, o Código Civil. Mas o Código Civil não é um dogma. É meramente uma lei que se deve adequar aos padrões da sociedade. Que sociedade? Esta, na qual vivemos, onde o senhor A vive com o senhor B e se amam e gostariam de formar uma família (leia-se, “adoptar uma criança”), porque a homossexualidade não se transmite por osmose e, mesmo que assim fosse, também não vejo que assim viesse mal ao mundo. Afinal, estamos meramente a falar de uma orientação sexual e não de uma tendência homicida.
É que aquilo que a lei diz não é lei. Ou melhor, só o é enquanto assim o quisermos. E penso que estou relativamente à vontade para “desendeusar” a lei porque, afinal, trabalho com ela. Se ao longo da história nos tivéssemos bastado com aquilo que as “sábias palavras da lei” estipulam ainda hoje faríamos sacrifícios humanos, queimaríamos na fogueira as mulheres de cabelo vermelho e teríamos cada um o seu escravo pessoal (e olhem que nem me oponho a esta ideia supondo que estamos a falar de um senhor alto, forte e espadaúdo, que me assistisse em todo o tipo de necessidades). O que foi a abolição da escravatura senão o reconhecimento de que as leis que dominaram a nossa existência durante centenas de anos afinal estavam erradas e que os negros, se calhar, até tinham a mesma dignidade que nós?
Não a terão também os homossexuais? Não terão o direito de afirmar pública e solenemente quem são e quem amam? Ou podem sê-lo e fazê-lo, desde que seja às escondidas?
Até digo mais, sobretudo para aqueles que sentem enjoos e suares com a mera ideia de sexo entre duas pessoas do mesmo… lá está… sexo. Sexo. Sexo. Sexo. Repito a palavra porque em regra essas mesmas pessoas mal a conseguem dizer. Como se fosse um daqueles palavrões que dão castigo na escola. Mas, dizia eu, que até quero dizer mais. E vou dizê-lo: se a homossexualidade vos causa assim tanta repulsa, que pior castigo se pode desejar aos homossexuais senão o de partilhar todos os dias, cada minuto do dia, a existência com uma mesma pessoa, a quem “supostamente” (talvez melhor, “utopicamente”) deverão ser fiéis, e acompanhar na alegria e na tristeza, até que a morte os separe. Ou até que sobrevenha um divórcio. Já pensaram bem o terrível castigo que os homossexuais não vão sofrer com o casamento e depois, se tudo correr bem (se correr mal, têm que se aturar um ao outro) com o divórcio? Pior ainda, o leque de advogados que vêm anexados a um divórcios??? De modo que, para quem não gosta de homossexuais, abrir-lhes a porta do casamento é, de facto, o melhor “presente”, envenenado, claro está, que lhe podem dar.
Deixando o sarcasmo de lado – faço notar que eu até sou uma crente no casamento, quiçá mesmo a última das moicanas do casamento – gostaria que ponderássemos sobre o verdadeiro motivo pelo qual nos opomos ao casamento entre pessoas do mesmo. E a única conclusão a que chego é esta: uma ideia pré-concebida, e hoje já bem ultrapassada, sobre aquilo que é o casamento.
Dizem-me os meus colegas, ilustres juristas por sinal, que o casamento é, segundo a ordem natural das coisas, uma união entre pessoas de sexo diferente. Ora, parece-me a mim que o que eles querem dizer é que o casamento foi, segundo o ensinamento da História, uma união com esses traços. Mas a História dita o que foi, não o que será. É que nos impusesse, inelutavelmente, o rumar dos acontecimentos, ainda hoje eu seria uma fada do lar, à espera que o meu marido, ganha pão da casa, chegasse do trabalho e me desse uma valente sova para mostrar quem é o chefe da família. E ai de mim que me atravesse a deixar o lar matrimonial (lar este onde me caberia o débito conjugal, ou seja, e literalmente, pagar com o corpo as “alegrias” que ele me desse) porque a policia podia ir buscar-me à força para me entregar ao meu legitimo proprietário. Aquilo que o casamento foi já não o é hoje porque ele é, afinal, um instituo em evolução.
E nem se diga que os homossexuais podem casar, mas não uns com os outros. Este tipo de argumento é tão básico e vazio quanto aquele outro, hoje judicialmente condenado, de que as mulheres não são discriminadas no trabalho por estarem grávidas, uma vez que as normas laborais se aplicam a todas as pessoas grávidas, homens ou mulheres. Por favor, dêem-nos algum crédito de inteligência…
Eu, pessoalmente, adoro lésbicas. Cada lésbica que existe é menos uma mulher em competição na busca da minha meia laranja. Já os homens gays… não, não posso concordar. Irrita-me profundamente que fiquem com os melhores da espécie. Inveja? Sim, caramba. E desapontamento porque em regra são homens lindos, limpinhos, cultos, com corpos de ginásio, com gosto pelas compras. Simplesmente, preferem olhar para os meus sapatos do que para as minhas pernas. E depois babam-se com as pernas do tipo da frente. Os bi’s, esses, são piores ainda. Porque são garganeiros, querem tudo. E eu??? Alguém pensa na pobre menina solteira??? Deixem pelo menos um homem apresentável para mim!
Aparte essa salvaguarda, casem e sejam felizes.

domingo, 27 de dezembro de 2009

A importância de um segundo



As palavras, as acções, as omissões, tudo isso tem um tempo. Há um momento certo para cada coisa. Se chegarem demasiado cedo chegam fora do tempo. Se chagarem demasiado tarde chegam fora do tempo também.
Eu, que sou apressada devido à minha carga genética, peco sempre pela antecipação. Diga as coisas quando ninguém ainda as espera. Uso os sapatos quando ninguém nunca os viu. Corto o cabelo antes de alguém o ter sonhado assim. Vivo antes do tempo talvez. Como se o mundo ainda não estivesse preparado para mim. Eu, pelo menos, gosto de pensar que é assim. Mas talvez seja ao contrário, e admito até que seja eu a não estar preparada para o mundo. E decido tudo no tempo que tarda o bater de asas de uma borboleta. Sem indecisões. Sem meios-termos. Posso até dizer que mais dilemas me suscita comprar um casaco do que decidir a minha vida durante 20 anos.
Em contrapartida, os outros chegam sempre demasiado tarde para mim. Sobretudo as palavras. As palavras dos outros tocam nos meus ouvidos quando a cabeça e o coração já desistiram delas. É como se dissessem as coisas quando para mim deixaram de ser importantes. E por isso são apenas sons que ficam ali, no ar, a pairar. E que aborrecida eu fico por já não lhes poder dar sentido. A sério que as querias utilizar. Fazer delas poesia. Magia. Mas sou inepta no que toca ao aproveitamento daquilo que era mas já não é. Os resquícios do que podia ter sido.
Acontece-me muito com gestos e palavras. Porque eu sei imediatamente quando gosto de alguém. E não temo em dize-lo. Sabe-se lá quando é que vou cair fulminada no chão por um raio ou por um telhado, e parto daqui sem dizer às pessoas o importantes que foram para mim e o quanto gostei delas. O mesmo vale para quando não gosto. Há quem o guarde para si e o moa e remoa dentro das vísceras, sem nunca o contar a ninguém ou então partilhe aquela raiva passados anos, décadas mesmo. Eu não. Anatomicamente tenho a boca desmesuradamente grande e por isso sinto alguma dificuldade em prender as palavras dentro dela. Por vezes arrependo-me, confesso que sim. Tantas vezes disse o que não sentia de verdade, mas cuspi aquelas frases como se me queimassem a língua. E imediatamente depois desejava eu voltá-las a sentir a queimar. Demasiado tarde.
Dizem que o ponto óptimo é sempre o equilíbrio. Nem tarde nem cedo. No tempo certo. Mas eu também nunca garanti que era equilibrada. Por isso vivo neste anseio de ouvir aquilo que chega sempre demasiado tarde. E depois, quando finalmente chega, já não sei o que lhe hei-de fazer. E arrasto comigo, no um baú de recordações, a memória de todas essas palavras e sentimentos que empurrei lá o lixo das sensações e dos sentimentos. Se alguém em puder explicar como os poderia reciclar ficaria muito agradecida

sábado, 10 de outubro de 2009

PELA VOSSA SAÚDE, BEIJEM-SE


Alerta laranja: temos uma nova epidemia em mãos. O vírus da gripe já era. A maior preocupação dos nossos tempos deve antes ser o vírus do stress e da depressão. O país anda severamente deprimido. As pessoas empurram-se umas às outras no metro e nem sequer pedem desculpa. Queima-te com a ponta do cigarro (ou outro derivado de produtos naturais) quando passas nas ruas estreitas do Bairro Alto e parecem sentir prazer com isso. Chegam a vias de facto para tentar passar à frente na fila do MacDonalds. Desejam-se coisas terríveis aos chefes (onde se incluem diarreias ou prisões de ventre, depende do que se entender mais doloroso) e depois vingam-se nos subordinados, a quem podem efectivamente fazer a vida negra. Buzinam e ofendem no trânsito e, de quando em vez, mostra-nos o dedo anelar. Em suma, o maior flagelo deste mundo é a depressão e a raiva.
Porém, não “paniquem” (um grande bem-haja à Magui por ter introduzido este termo no meu léxico diário), eu tenho a solução. Beijos. Yap. Beijos. Informou-me esse fabuloso meio didáctico que é a televisão que um beijo de 30 segundos por dia diminui o stress, a ansiedade a depressão. Tão simples como isso: abrir a boca, deitar a língua cá para fora e deixar a outra entrar. Já dizia a minha avó, é tudo uma questão de cedências…
Note-se que não me refiro àqueles beijos de bochecha, que damos às tias com verrugas na cara. Tão-pouco aos xouxo, de lábios bem fechados, não vá algum vírus entrar pela goela. Falo daqueles beijos longos, húmidos, quase pegajosos (e quem não gosta de se sentir pegajoso, enh???), que duram no mínimo 30 segundos, mas cujo efeito em nós se repercute durante horas. Com saliva e tudo o mais a que dão direito. É desses mesmo que falo.
Imaginem o quão surpreendente seria para o tipo que, no carro atrás do meu no posto de combustível, me apita insistentemente para tiraram o carro dali se, subitamente, o beijasse. O homem apitava desenfreadamente, e começava já a vociferar algumas conceitos pouco abonatórios para a minha pessoa, onde se incluem referências a ficar em casa a lavar a louça ou a dar pontos nas meias. Eu fazia o meu melhor para arrumar na mala XXL o VISA, o batom e o espelhinho da Channel (tendo em conta o que paguei por 10 cm de espelho, bem posso ter todo o cuidado do mundo em deixá-lo bem guardadinho numa bolsinha à prova de acidentes). O homem começava a passar os limites da decência e do bom gosto. E eu, que não tenho sangue de barata, saia calmamente do carro, (o calmamente não se destina apenas a criar o ambiente propicio para a história, mas justifica-se sobretudo pelos estragos que o tamanho dos altos já fizeram aos meus pezinhos, agora inchados e doridos), dirijo-me ao carro dele, baixo-me (de costas direitas, para ficar com o rabiosque espetado e ao menos dar uma boa fotografia), enfio a minha cabeça por entre o vidro da janela e beijo-o. Assim, do meio do nada, beijo um completo estranho. E depois vou-me embora para o meu popó, onde continuo calmamente a arrumar as minhas coisinhas de menina. Lindo, não é? Sugiro veemente esta solução para evitar cenas menos próprias que nos deixem os nervos em franja e acabem com uma queixa na polícia.
Por conseguinte, beijem-se. Se querem viver mais tempo e mais felizes tratem de começar a trocar fluidos com a vossa meia laranja e, caso ainda não vos tenha caído no colo, até mesmo com o vizinho do lado. A não ser que tenha herpes e seja zarolho, sendo que nesse caso estão dispensados de o fazer.
Mas, pela vossa saúde, beijem-se.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

UM AMOR COMO NOS FILMES


Aqueles que nós que crescemos rodeados de livros e de filmes queremos isso mesmo: um amor de conto de fadas, um amor como nos filmes.
Nos filmes tudo é perfeito. Pode começar por não ser. Pode terminar por sê-lo ainda menos. Mas mesmo de forma dramática e bizarra, mesmo que a heroína morra e o herói se suicide, tudo acaba por ser perfeito. Recordo-me de uma musica: “many people take second best ...But I won't take anything less ...It's got to be perfect”. Não sou completamente naif (apenas medianamente). Sei que perfeição não existe, até porque só seria possível se também eu, a contraparte, fosse perfeita, coisa que estou longe de o ser. Mas podemos ansiá-la. Desejá-la. Trabalhar para ela. E não nos ficarmos por menos do que isso. Esta é a herança que os meus pais me deixam, com um casamento feliz de 30 e tal anos. Pesada herança esta! Convenhamos que a fasquia não está nada baixa…
Suponho que o mito da perfeição seja alimentado também pelos fracassos anteriores. Quando se sai de uma relação desastrosa pensamos em não cometer os mesmos erros. No meu caso, o principal erro foi acreditar que as coisas iriam melhorar. Ele hoje desmarcou? De certeza que amanhã não faz o mesmo. Ontem confidenciou-me ter dúvidas? Passarão com o tempo. Tenho a sensação de que ele não gosta o suficiente? Vaia acabar por gostar.
O catolicismo ensina-nos, desde o berço, a ter fé. Eu não a tenho em Deus, porque não tenho a certeza de que exista (mas, pelo sim pelo não…), porém, tenho muita fé nas pessoas de carne e osso que me rodeiam. E depositei nele toda essa fé. Acreditei que aquele amor iria superar todas as “feridas de guerra” e, tal como nos filmes, sairia vencedor. O que se passava era que o tal amor era só meu. Não havia um “nós”, um “nosso”. Apenas um “eu” à espera que o “ele” despertasse um dia e, como por magia, se apercebesse que eu estava ali. Nunca aconteceu. Não se iludam: nunca acontece.
Depois disso percebi que o que nasce torto, torto morre. Por isso hoje quero coisas perfeitas. Já não espero que o venham a ser, mas exijo que o sejam desde o inicio. Nos momentos de lucidez apercebo-me que estou errada. Até tenho noção disso. Mas – e não pretendo aqui invocar justificação alguma para as minhas fantasiosas exigências – a verdade é que já não tenho nem disponibilidade nem disposição para esperar que o imperfeito se torne perfeito. Falta-me tempo e força anímica para aguardar pacientemente que ele olhe para mim, realmente para mim, e veja o fantástica que sou e como goste dele. Ou percebe isso imediatamente ou eu tenho que ir procurar o filme da minha vida.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

BAD BOYS


Desde tempos imemoriais que as mulheres gostam de bad boys. Por algum motivo as princesas abriram as portas da torre aos príncipes que matavam dragões com as suas lanças e não àqueles que faziam festinhas aos bichinhos e lhes davam leitinho.
Ainda hoje são os maus rapazes que nos dão volta à cabeça. Recordo uma amiga que, perfeitamente desesperada, me falava do seu dilema durante um jantar: ficar com o homem que a tratava como uma princesa, ou com o sacana que a desprezava? O primeiro era um tipo amável e gentil, que queria conhecer a filha dela, pormenor este capaz de derreter qualquer mulher. Para evitar que a coitadinha se levantasse e fosse a correr para a casa lavar a cabeça com o seu champô especial para cabelos pintados e untar-se com o seu creme especial para peles secas, chegara ao ponto de encher o armário da casa de banho dele (e todas sabemos como eles veneram o espaço dos respectivos armários, com os diversos frascos de after-shave e comprimidos comprados pelas mamãs) com os ditos produtos, tudo da melhor qualidade, e especificamente dirigidos para mulheres de cabelos pintados e pele seca. Já o outro… bem, o outro, tinha namorada, ou melhor, tinha “espécies de namoradas”, recebia telefonemas estranhos durante a noite, ignorava-a em público, tratava-a com rispidez e aparecia e desaparecia conforme lhe desse na cabeça. Porém, ele era um bad boy, de modo que todas estas gafes se tornavam aspectos deliciosos de um rufia da pior espécie.
Que digo eu disto? Been there, done that… and than I grew up.
Tive a minha época áurea de maus rapazes, onde qualquer tipo que desafiasse a ordem estabelecida e se tornasse inacessível aos meus encantos me parecia a 8.ª maravilha do mundo. Assim se explica que tenha aguentado um namorado libanês que só faltou enfiar-me numa burka, ou um outro que me traiu com meia cidade e tentou com outra meia. E eu perdoava constantemente, na esperança de ser eu, euzinha, a tornar aqueles meninos maus em meninos bons. Porque acho que no fundo é isso que nos leva a gostar deles: a expectativa de sermos salvadoras da pátria, heroínas nacionais de um coração rebelde.
Gente problemática é muito mais interessante do que gente com boa onda. Vejam-se os romances de filmes e livros: não há histórias de amor que nos falem de relações pacificas e felizes. São todos amores tortuosos, com parceiros abusivos, cheios de traumas de infâncias, que descarregam nas virtuosas donzelas ódios pela mãe, pela prima, pela tia e pela avó. Se nos filmes é assim, é óbvio, mas óbvio mesmo, que na vida real não pode ser de outra forma. As mulheres gostam de coisas complicadas. Por isso procuramos relações que nos fazem viver no abismo, onde nunca sabemos o que pode acontecer, não sabemos onde pode ele estar, com quem, em suma, quando nos vai deixar. E é esta adrenalina que vai alimentado a nossa paixão, há falta de alguma coisa mais substancial que o faça.
E quanto mais inteligentes são as mulheres, maior o grau de complicação que procuram. Dito isto, confesso que devo estar a “desinteligentar”. Porque hoje em dia o que me arrepia são os bons rapazes. Os que nos revelam valores e princípios que nós desejaríamos ter. Os que nos levam o pequeno-almoço à cama. Os que aguentam pacificamente as nossas horas de compras sentadinhos na esplanada, prestes a definhar. Os que desmarcam jantaradas com amigos só para nos fazer festinhas na barriga porque estamos doentes. Hoje que vão até ao fim do mundo para comprar o champô que melhor cuida dos nossos caracóis. Hoje acho isso tremendamente apelativo aos sentidos
Ainda me recordo da noite em que jantava com o meu “good boy” e lhe perguntei porque carga de água tinha decidido agora, já trintão e com uma carreira estabelecida, mudar completamente de vida e tirar finalmente o curso que sempre sonhara desde pequenino. Enfim, porque não o tinha feito logo com 18 anos, como o comum dos mortais, e perdera tanto tampo num trabalho que não apreciava particularmente? “Porque o curso é caríssimo – respondeu ele – e depois de tudo o que os meus pais fizeram por mim não lhes podia impor mais este encargo absurdo”. E eu babei. Note-se que não foi por causa do bolo de chocolate que tinha à frente, mas por causa da rectidão moral do homem que tinha à frente.
Não há coisa mais sexy do que gente com valores, que sabe bem de onde vem e para onde vai, que me olha como uma princesa e que trata os dragões que tenho comigo (e já são 4) como se fossem bichinhos de estimação.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

SE EU TIVESSE QUE CONQUISTAR UM HOMEM PELO ESTÔMAGO…


Ouvi dizer que há por aí mulheres prendadas, que sabem cozer os buracos das meias e limpar o pó atrás dos móveis. Eu não sou uma delas. Os meus fracos triunfos de sexo fraco (gosto sempre de dar estas borlas aos meus amiguinhos mais machos…whatever that means) resumem-se a caminhar pelos passeios com um leve bambolear de ancas em cima de uns vertiginosos saltos. E depois, “prontos”, digo uma coisas, escrevo uma coisas, parece que até falo de politica internacional e de engenharia genética, mas fico-me por aqui.
Uma das maiores frustrações da minha existência Barberiana reside na debilidade culinária que me atormenta. Digamos que eu com tachos nas mãos sou como o Rockembach com uma bola nos pés: não funciono nem nunca funcionei. O que não seria emocionalmente devastador se não fosse o meu desejo de ser o Liedson das cozinhas.
Admito que sou um autêntico chef de culinária quando se trata de misturar iogurtes com cereais e meter refeições pré-congeladas no forno. E, justo crédito me seja dado, faço umas sandochas de atum com ketchup que…upa!upa! Mas quando nos movemos para o domínio da home-made cooking escondo a cara no meio dos caracóis.
Compreenderão agora o meu desespero quando me vi na continência de preparar um jantar romântico. Caramba, para que fui eu voluntariar-me? Porque não sugeri imediatamente um tete a tete à luz das velas num recanto bonito, com ementa, travessas a ir e vir, e empregados de avental branco? Porque eu gosto de viver perigosamente.
E lá andei eu, pela internet, a rebuscar receitas. É que as senhoras nossas mães tinham livros próprios para isso, ou então aprenderam com as mães delas. Mas como durante o meu crescimento sempre fui mais dada às lides intelectuais do que às domésticas cheguei aos 33 anos sem conseguir estrelas um ovo. Não estou a brincar. Não consigo mesmo. Tenho medo que o óleo quente me salte para cima de modo que me mantenho a uma distância suficientemente segura para deixar a salvo de queimaduras a minha alva pele de bebé mas, ao mesmo tempo, suficientemente longe para deixar esturricar o bicho na frigideira.
Depois de escolhida a ementa – algo sexy, com um toque afrodisíaco, onde sabores salgados se misturem com sabores doces – meto mãos à obra. Devo dizer que comecei de manhã, porque temi os inúmeros perigos que me esperavam. Em última instância estava preparada para o take away. Poupo-vos os pormenores macabros da empreitada. Posso dizer-vos, porém, que manga seca avinagrada é coisa para se repetir. Esta iguaria saiu da minha cabecinha, depois de me informar sobre a conjugação de sabores. De seguida, arrisquei numa carne assada com mel, porque se sai bem ao Jamie Oliver não me podia falhar a mim. Aliás, foi mais difícil comprar a dita do que assá-la. É que eu nunca compro carne vermelha. De modo que não sei distinguir o que é para assar do que é para grelhar, o que suscitou algum burburinho e uma ou outra gargalhada, no talho. E note-se que me dei ao trabalho de fazer dois assados, porque eu não tenho culpa que o homem não coma carne branca nem ele tem culpa de eu não comer carne vermelha. Sobremesa? Muffins do Pingo Doce, pois então. Dois minutos no micro-ondas, plinf…. e lá foram eles para a mesa, rodeados por um puré de maçã frita com canela, que sempre desperta os sentidos mais libidinosos (e nunca se sabe o que poderia acontecer depois). Não tive coragem de chamar a mim os louros pelos bolinhos. Até porque a caixa de cartão com a fotografia dos mesmos sorria-me do topo do meu balde do lixo e não me deixava mentir.
Acho que a minha grande cartada foi mesmo a ambiance. Luz das velas, musica bem melosa escolhida a dedo enquanto terminava um parágrafo da tese, milhentas taças e tacinhas para molhos e molhinhos, os copos novos que comprei propositadamente. E, claro esta, a indumentária da menina, com muito espaço para a pele e pouco para a imaginação.
Moral da história: se eu tivesse que conquistar um homem pelo estômago bem lixada estaria, porque o mais certo seria morrer solteira.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Afinal, o Pai Natal não existe



Nunca acreditei no Pai Natal com aquela certeza com que se acreditam nas coisas quando temos 5 anos. Não que tenha sido uma criança precoce nesse sentido, mas acho que a minha veia materialista me ajudou a perceber desde cedo que quem comprava as Nancy’s (naquele tempo não havia Barbie’s) era a mamã. Mas se eu tivesse acreditado com firmeza no Pai Natal, e se um dia tivesse descoberto que afinal o único senhor velho e barrigudo da minha curta vida era o avô, certamente teria entrado em colapso nervoso. Porque é isso que acontece quando as nossas convicções mais profundas caem por terra.
Uma dessas convicções bem arreigadas entre os ventrículos e aurículos do nosso coração é a confiança que depositamos nos outros. E utilizo aqui o termo depósito no sentido próprio e jurídico da expressão, perdoem-me o que não são de direito. Diz o art. 1185.º do Código Civil que o contrato de depósito é aquele pelo qual “uma das parte entrega à outra uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e a restitua quando for exigida”. É disso mesmo que aqui se trata. Entregamos a alguém a nossa fé, a nossa lealdade, a nossa honestidade, em suma, o nosso coração, com a condição desse outro alguém restituir tudo isto (que não é coisa pouca) quando as circunstâncias ditarem a sua exigência. Que circunstâncias são essas? Nomeadamente, a perda da confiança. A quebra do elo. O fim.
A traição é como uma lâmina aguçada a espetar-se em nós. A primeira vez que tentei descrever esta dor saiu-me “a traição é como um tiro”, mas depressa percebi que isso sabe a pouco. Não que alguma vez tenha sofrido algum destes desastres. Mas no meu imaginário, feito de muitos filmes, um tiro é uma coisa rápida, bem mais indolor do que a lenta agonia de sentir a lâmina a espetar-se na carne. Quando a pessoa que nos atraiçoa é um amigo próximo, daqueles bem próximos, daqueles que são quase como uma parte de nós, é ainda pior, porque é como se a lâmina estivesse ferrugenta.
Depois de quebrada a confiança dificilmente ela pode ser restaurada. Todos somos livre de violar os nossos compromissos, não podemos é depois esperar que a contraparte deseje novamente comprometer-se connosco.
Gostar de alguém é acreditar. Em muita coisa, em grande parte coisas impossíveis. Mas acreditamos. Acreditamos que vai durar para sempre, que vamos ser respeitados e amados. Em regra, não dura. Mas a fé estava lá, fundada nesse laço de confiança que criámos que aqueles que nos cativam. E cativar alguém traz consigo uma grande responsabilidade, já dizia o Pequeno Príncipe. De velar pelo outro, de cuidar dele, de o proteger de todos os males no mundo. Quando tudo isso desaparece fica apenas uma cratera.
Perante este cenário dantesco a única opção é pedir a restituição, nas suas devidas condições, daquilo que entregámos em depósito. Queremos o nosso coração de volta. E não é que às vezes eles não no-lo entregam? Ou o entregam já defeituoso, cheio de buracos e carcomido?
Se o Pai Natal existisse o que eu fazia era pedir-lhe um coração novo. “Querido Pai Natal, podes por favor colocar no meu sapatinho, no próximo Natal, um coração novo para eu poder amar?” Só há dois problemas com esta minha solução. Primeiro, falta muito para o Natal, e até lá eu preciso de um coração que bombeei sangue para o meu 1,63 m de corpo. Depois, o Pai Natal não existe.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Desapareceu misteriosamente de minha vida…


Ela perguntava-me (de olhos bem abertos e, juraria eu, com uma lágrimas prestes a rebolar-lhe pela face) se eu acreditava naquilo. E eu acreditei. Porque chegada a esta idade e depois de ter visto o que vi (esta foi só para dar ares de mulher experiente) eu já acredito em tudo. Como podia eu duvidar que aquele homem tinha entrado subitamente na vida dela, sem súplicas de compromisso nem algemas de presença, para depois desaparecer ainda mais repentinamente? Tenho motivos par não acreditar que se tenha recusado a qualquer conversa explicativa, nem sequer lhe atendendo o telefone? Como posso eu duvidar, se já ouvi (e até vivi) histórias destas.
E enquanto ela falava, aninhada no meu sofá, com as palavras a tropeçar-lhe na boca, eu só conseguia pensar num trecho televisivo que me acompanhou enquanto crescia. Rezava assim: “Desapareceu misteriosamente de sua casa fulano tal e tal, no dia tantos do tanto. Vesti na altura camisa assim e calças assado. A quem souber do seu paradeiro pede-se que informe…”. Recordo-me de medir menos de metro e meio e de assistir a este anúncio na televisão enquanto jantava. Sempre enquanto jantava. Como se aquele momento familiar fosse uma boa altura para nos recordar que algures por aí existia um elo fora da corrente. Aqueles que já passaram os 20 anos partilharão certamente comigo esta memória: os avisos de desaparecimentos emitidos pela Policia Judiciária na televisão estatal, a única existente à data.
O que se passa é que esses desaparecimento diziam em regra respeito a homens de idade avançada, e de não menos avançado estado de demência. Nos de hoje a demência mantém-se (não quero ser rude, mas só pode ser psicopatia), mas os homens estão em idade de acasalar e, pelos vistos, sofrem de uma enorme incapacidade em encarar essa circunstância.
Entram de rompante nas nossas vidas, sem o pedirmos. Enche-nos de mimos e de flores. Alguns apresentam-nos até às famílias. Arrastam-se atrás de nós como cães sem dono, indiferentes ou imunes ao (por vezes aparente) desprezo com que os brindamos. E depois um dia… nada. Primeiro inventam que o cão da prima da tia da avó foi atropelado, e por isso não podem vir jantar. Depois, deixam de ligar. Finalmente, deixam de nos atender. E aqui emergem uma série de dados curiosos e perguntas por responder. Como é que um homem que parecia beber o ar que eu respiro perde instantaneamente o interesse? E porque é que eu, que me sentia até incomodada com aquela sombra constante atrás, dou por mim a sentir a sua falta? Mas, mais importante: porque é que ele nem sequer os tem no sítio para me explicar o desaparecimento?
Note-se que qualquer um de nós é livre de fazer o que bem entenda e gostar de quem lhe dê na realíssima gana. O 25 de Abril trouxe-nos a liberdade política, mas há muito que a liberdade emocional fez a sua revolução. Não podemos exigir que ele esteja aqui connosco. Mas podemos exigir uma explicação. Uma razão. Que não gosta de nós. Que perdeu a pica. Que conheceu uma modelo de 1,80m. Que descobriu que afinal é gay. Que lhe apareceu uma borbulha no lábio e não poderá dar beijos durante os próximos 4 anos. Sei lá, qualquer coisa. Mas que apareça, que dê sinais de si, que mostre algum respeito por quem está do outro lado.
Eu própria já desapareci. E não me orgulho disso. Creio que lhe dei uma explicação concludente, mas nem disso estou certa. Porque o fiz? Porque a sua mera presença me dava urticária. E foi mais ou menos isto que lhe disse. Sei que não é muito explícito, mas nem eu própria sabia mais do que isto. O importante, sublinho, é que eu apareci. Tive a tal conversa. Quero com isto dizer o que já repeti milhentas vezes: eu tenho-os mais no sitio do que quem nasceu com eles.
Durante estas minhas reflexões ela continuava agitadamente a falar. E a atirar hipótese para o ar. E se…? E se esse…? E a massacrar-se por pensar que a culpa fora dela. Pode a situação ser mais surreal?
Novo anúncio: “Desapareceu subitamente de minha vida um homem que eu nem queria nela presente. Nem me recordo do que vestia na altura. Agradece-se a quem tiver notícias dele que as guarde para si porque eu, francamente, estou-me nas tintas”.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A DECISÃO INCOMPREENSIVEL DE QUEM POUCO COMPREENDE


Não tenho nada nem contra nem a favor dos gays. Enfim, corrijo, tenho algumas coisas contra. Irrita-me solenemente que os melhore jogadores do campeonato joguem na sua equipa, que sejam os mais bem-vestidos das festas e que tenham um impecável gosto pela decoração. Não poderiam ter isso tudo e ainda assim gostarem de mim também? Se assim fosse, seriam perfeitos. Como não o é, irritam-me solenemente.
Este meu sentimentozinho de vingançazinha está, de resto, bastante difundido na sociedade. Irrita-nos tudo o que não é como nós gostaríamos e todos os que não fazem aquilo que desejaríamos. Assim explico eu que as leis da maior parte dos países impeçam os homossexuais de adoptar e que pais que tenham assumido essa opção sexual nem tivessem sido ponderados para efeitos de poder paternal e, inclusive, judicialmente impedidos de visitar os filhos.
Agora, o refugo da silly season brindou-nos com outra notícia para nos fazer pensar nestas coisas: Sir Elton John e o seu companheiro pretendiam adoptar um rapaz de 14 anos, seropositivo, que vivia numa instituição ucraniana, e foi impedido pelo governo do país, que alegou que Elton John não só não tinha família constituída como, além disso, ultrapassava a idade fixada na lei nacional para adoptar.
O segundo argumento vale o que vale. A maior parte dos ordenamentos jurídicos determina uma idade máxima para os adoptantes, que podemos discutir, e que no caso é discutível, porque não me chegam aos ouvidos que pais de idade mais avançada sejam necessariamente inaptos, como aliás o demonstram as inúmeras histórias de crianças educadas por avós.
Já o primeiro argumento esconde na verdade um terceiro, que o governo não disse. Como poderia? Seria politicamente perigoso faze-lo, atendendo aos poderosos lobbies gays que se começam a formar. É que, como ninguém esconde, e muito menos ele, Sir Elton John é gay. Bicha. Laricas. Maricas. Paneleiro. Essas coisas todas simpáticas com que brindamos aquilo que não compreendemos.
Ora, todos sabemos que o melhor critério para aferir um bom pai é a sua orientação sexual. Nem poderia ser de outra forma. Até porque circulam por aí estudos científicos que demonstram comprovadamente que os gays são todos um bando de pedófilos depravados. O problema, meus caros, é que eu nunca tive acesso a nenhum desses estudos nem nunca ninguém me conseguiu demonstrar com argumentos racionais (racionais, note-se, não motivações fundadas em preconceitos religiosos ou de consciência pessoal) que (agora por pontos, à boa maneira jurídica):
i) Pais homossexuais tragam para o mundo filhos homossexuais;
ii) A homossexualidade seja uma doença perniciosa a infectar a sociedade;
iii) Os homossexuais sejam pedófilos.
No dia em que alguém me demonstrar isto eu assino por baixo da decisão do governo ucraniano. Sou uma pessoa razoável (razoavelmente teimosa, diriam alguns) e quando me demonstram que estou errada sou capaz de o reconhecer. Mas enquanto estivermos a falar de duendes, histórias de faz-de-conta e gente maléfica que gosta de pessoas do mesmo sexo, não contem comigo para assinar o que seja. Muitos menos para passar certificados de verdade cientifica e jurídica a convicções fundadas no temor daquilo que ultrapassa as nossas o nosso curto entendimento.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

ESPÉCIE: HOMINAE SALTUS ALTUS


Nos primórdios dos tempos, quando os nossos antepassados apareceram na face da Terra, gatinhavam com as 4 patas. Paulatinamente, por motivos que ainda hoje escapam à ciência, começaram a usar apenas os membros posteriores para se equilibrar e desse modo chegámos ao Homo Erectus. Mas eis que passados muitos milhares de anos se aperceberam que apoiando apenas as pontas dos pés no chão ficavam com corpos mais esbeltos e assim apareceu a maior invenção do mundo, a seguir à roda e aos gelados: o salto alto. Parece que no inicio não era apanágio feminino. Mas, convenhamos, nessa altura os homens usavam perucas aos canudos e pó de arroz no rosto, o que não era particularmente abonatório da sua masculinidade (eu ainda acho que homem que é homem não usa coisas de meninas, excepto se for escocês, e aí está autorizado a andar de saia, desde que sem boxers por baixo).
Hoje reivindicámos para nós os saltos altos. Eu, particularmente, reivindiquei para mim a pertença a essa espécie curiosa que prefere arriscar-se a torcer um tornozelo a arrastar os calcanhares pelo chão. E todos os que me conhecem sabem desta minha…particularidade, vá lá. Por isso não escondi o espanto quanto ontem à noite uma amiga, com quem partilharei hoje jantar, me escreve no msn: “Ah, um pormenor, traz sapatos rasos porque te quero levar a um sítio e o caminho até lá não é fácil”. Silêncio. Nem toquei nas teclas. Mas ergui o sobrolho. “Ó miúda, saltos rasos??? Mas queres que eu vá comprar uns?”. Não me compreendam mal, eu tenho sapatos rasos, divididos em três grandes grupos: sapatilhas para o ginásio, havaianas para a praia e sabrinas, para o que der e vier. Aliás, durante o dia, e excepto o período laboral, a minha regra é ser rasa. Compreendo que uma medica não faça operações enfiada em botins de camurça ou em pumps de cabedal com saltos assassinos, mas compreendam vocês que eu não sinto confortável a assistir a reuniões sendo a mais baixinha da sala. Chego a ir trabalhar de sabrinas calçadas e os saltos altos na bolsa, ou bem enfiados na pasta do PC e, à boa maneira dos Estates, mudar-me na casa de banho ou no elevador. Mas… sair à noite??? A noite pede saltos altos. A única excepção é a queima das fitas de Coimbra (by the way… há outra?), porque o parque não perdoa e os saltos se enterram imediatamente na terra empapada em vómito. Mas, fora disso, quanto mais alto melhor.
Porquê? Porque eu sou pequenina e gosto de ver o está para lá da linha do horizonte. Porque as pernas ficam incomensuravelmente mais bonitas em cima de 10cm. E porque quando se tem um namorado alto e se usa sapato raso arriscamo-nos a parecer o Frankenstein e o Igor: ele um Frankenstein lindo de morrer e eu um Igor baixote a atarracado.
Por isso, aborrecem-me à vontade com tornozelos partidos, dores nos ossos, lentidão no andar, saltos presos nas calças. Se eu não critico quem anda de salto raso, porque me criticam a mim? Cada um empoleira-se onde lhe der na realíssima gana, desde que não ande por aí a pisar pessoas ou cocós de cão. E eu, fazendo jus à minha espécie, olho para o mundo do alto dos meus 10cm de salto.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O PLANO B

Há muitos dias atrás (não sei se meses se anos, é como se o relógio do tempo se tivesse derretido quanto a esse período da minha vida) alguém me avisou que eu deveria ter um plano B.
E eu, que era naif e estava apaixonada, olhei-o como se ele me falasse da descida da Virgem Maria à terra. Um plano B?
Sim, um plano para o caso das coisas correrem mal entre nós, respondeu ele.
Nesse momento fiquei renitente, quase magoada com tamanha falta de fé (isto vindo de mim, que sou agnóstica). Mas hoje tenho esse conselho como uma das minhas maiores lições de vida. De facto, há que ter sempre um plano B. Porque as pessoas falham. Os sentimentos falham. E nós temos que cair de pé. Como um gato. Não sobre as 4 patas, mas sobre os 2 pés e os 2 sapatos.
Não quer isto dizer que não se goste. Ou sequer se que goste menos. Mas não nos devemos dar por inteiro. Nem acreditar por inteiro. Nem confiar por inteiro.
Penso que é do conhecimento público que eu sou estupidamente fiel. Quase me torno aborrecida com tamanha monogamia. Por principio e por gosto. Acho sexy, e “prontos”. Mas hoje tento rodear-me de pessoas que me possam fazer feliz na súbita ausência do outro. Porque, acreditem, o outro vai-se ausentar. E não tem que ser sequer por motivo de força maior. Basta que invoque assuntos familiares ou reivindique a vida perdida de homem sem vínculos. E quando isso acontecer temos que permanecer firmes. Como a torre de Pisa, podemos inclinar-nos um pouco (o peso da tristeza não é de desprezar), mas há continuar a inspirar e a expirar.
O plano B é conhecer pessoas, estar aberto ao que têm para nos dizer, acreditar que podem ser igualmente interessantes. É poder ter opções. É alargar a vista para além da sombra dele ou dela.
Ele vai viajar com um amigo? Pois eu vou de fim-de-semana com uma amiga. Ele reserva o sábado para o “almoço/lanche/jantar” de família (e todos sabemos que os primos distantes e as namoradas dos irmãos são mais importantes do que as namoradas)? Pois eu aproveito para ir o ginásio pôr-me bonita para o que der e vier. Ele vai passar férias sem mim, quando sabe que eu só não deixo o cansaço vencer-me porque detesto que me levem a melhor? Pois eu decido aceitar o tal convite que se arrasta há séculos.
Sou menos fiel assim? Nunca. Sou menos romântica? Tento não o ser. Sou menos ingénua? Sem dúvida. Sou mais esperta? Só tento sobreviver.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Porque é que a TV CABO me dá náuseas

Vivo sozinha. Corrijo. Vivo sozinha quando não estou acompanhada pelos técnicos da TV CABO. É que a TV CABO é uma empresa que tem os seus clientes em tão elevada consideração que quando nos pressente mais sozinhos logo cria motivos capazes de justificar a presença assídua de técnicos, a tal ponto que já meti mais um prato na mesa para os fazer sentir confortáveis. Ora é ó telefone que fica mudo, ora a internet que cai de 5 em 5 segundos, ora a televisão que faz um ruído tão ensurdecedor que me deixou os ouvidos a apitar durante dias. As hipóteses são múltiplas.

Face a tudo isto já me perguntaram várias vezes porque não deixo, pura e simplesmente, de ser cliente. Um dos motivos é óbvio: estando a empresa em situação de quase-monópolio torna-se complicado escapar às malhas da Piovra.

Mas, mais do que isso, nesta altura do campeonato parece-me que deixar de ser cliente era a saída fácil, mas que não satisfaria a minha revolta. Perder um cliente não é muito. Mas ter um cliente como eu à perna pode conduzir a suicídios. É que eu, tendo eu dois cromossomas X, tenho a capacidade de me ocupar (e com sucesso) de duas tarefas ao mesmo tempo. Assim, consigo escrever a tese e ao mesmo tempo insultá-los ao telefone. Ou seja, posso perfeitamente passar o dia ao telefone a ocupar-lhes as linhas.

Conto até uma história para ilustrar esta minha tenacidade em não abandonar a TV CABO. Há alguns anos mudaram-me as condições do contrato sem ter sido previamente avisada que aquilo que eu contratara era apenas uma promoção, quando eu pensava tratar-se de condições que vigorariam durante toda a relação contratual. Depois de uma hora na loja em amigável conversa com um torturado funcionário (posso revelar que a certa altura me disse, de olhos húmidos: “A senhora está a ser má para mim!”) lá veio a gerente de loja, ou lá o que se chama a essa meninas aperaltadas que acham que ser responsável por uma loja TV CABO está logo abaixo de ser presidente do mundo. E lá vem ela, pronta a enfrentar a Fera. No caso, a Vera. E explicou-me que as condições que me queriam impingir estavam no meu contrato. Contrato? Qual contrato? (Papel? Qual papel? O papel). Pois se eu, como praticamente todos nós, apenas contactara telefonicamente com a TV CABO, o meu contrato era, puramente ,verbal. Não havia condições escritas com a minha assinatura por baixo. “Não, a senhora tem um contrato escrito connosco”, garantiu-me a esperta da menina. E eu, ingenuamente, saquei da mala o documento que o técnico que instalara o serviço deixara lá a casa, a certificar a sua presença. “Está a referir-se a isto?”, perguntei eu. “É isto o contrato?”, indaguei, de olhos bem abertos e com ar patético. “Sim, minha senhora, esse é o contrato”. – Respondeu ela, satisfeita por se conspurcar na minha suposta estupidez. “Bem – e veio ao de cima o meu melhor tom paternalista – isto não me parece que seja um contrato. Mais, atrevo-me a dizer que não é. Sabe porquê? Porque eu sou jurista. Melhor, eu crio juristas. E chumbo quem me diga que este papelinho é um contrato”.

Pontos nos i’s a menina tornou-se imediatamente mais simpática. Mas eu não. Eu ainda agora começara. E depois de uma dura batalha, quando já abandonava o edifício (Elvis left the building) virei-me para trás e disse:

“Nesta altura do campeonato os senhores já estão desertos de me ver pelas costas. Clientes como eu dão mais dores de cabeça do que lucro. Mas vou-lhe dizer o seguinte: isto tornou-se pessoal. Por conseguinte, eu só vos deixo em paz no dia em que as vacas tossirem. Ora, a senhora não sabe, que é limitada, mas eu esclareço-a: as vacas não tossem. Logo, vão ter-me à perna uma infinidade de anos”.

Tenho dito.

Por isso não largo a TV Cabo. Por isso, não perdoo as falhas da TV CABO. Por isso espalho pelo mundo a incompetência e baixo nível da TV CABO.

É que as vacas não tossem…

domingo, 30 de agosto de 2009

EASY RIDER

Embora a febre motard me corra na família nunca padeci dessa doença. Até dispensei a acelera que muitos coleguinhas tinham no liceu. O maior fascínio das motas para mim residia – e nem este era particularmente perturbador – na ideia de um tipo de óculos Ray Ban a conduzir a dita por uma estrada deserta, muito ao estilo do Dylan de Beverly Hills 90210, o mito da minha juventude.

Posso até confidenciar que olhava para os tipos das motos com certa…

Desconfiança? Enfim, é sabido que os idiotas que gostar de circular a 200km/h provocam acidentes seríssimos só pelo prazer de sentir a adrenalina. Ora, eu acho que cada um tem o direito de se matar como queira (daí ser firme defensora de eutanásia e dos testamentos em vida), não tem é o direito de andar a matar os outros e destruir familiar.

Paternalismo? Convenhamos que o ridículo da vestimenta de cabedal, com o lencito à Xutos, barbas a roçar a cintura e um ar, no mínimo, avesso à limpeza, me despertava certo paternalismo.

Curiosidade? Pois se a coisa tem tantos adeptos já desconfiava que não havia de ser má de todo e que algum encanto se escondia por entre km de alcatrão e terra batida.

Mas como de tudo nos calha na vida este fim-de-semana bateu-me à porta o convite para um passeio de mota. Mota… quer dizer, nem sei ao certo como lhe chamar. Para mim aquilo parecia um tanque de guerra de duas rodas. Aceitei à falta de melhor programa e aliciada pela companhia. Mas a medo. Muito medo. Na noite anterior sempre que fechava os olhos me imaginava contra os rails de uma auto-estrada, desmembrada ou, no mínimo, decapitada. Ora, se esse não foi um fim simpático para a Maria Antonieta, não vejo porque o deva ser para mim. Mas como o objectivo é defrontarmos os nossos medos lá fui eu fazer de pendura (“uma miúda das motas”) neste Domingo de Agosto

Primeiro desafio: escolher a vestimenta apropriada. Porque não tendo sequer um blusão de protecção, colocava-se a questão de saber como me proteger do frio e de algum potencial embate. Antes de mais, exclusão de roupas que se pudessem enredar na mota ou que subissem de tal modo ao sabor do vento e da velocidade que os restantes motociclistas e automobilistas vislumbrassem a rendinha da minha roupa interior.

Segundo desafio: enfiar a minha gigante cabeça no capacete. É que além de uma juba de leão (só eu sei, porque não fico em casa, lalalalalala) agraciou-me Deus (ou o demónio) com um cérebro monumental, de modo que nem me cabe na cabeça (tenho para mim que a principal razão do meu cabeção é mesmo massa cinzenta e não puro vácuo). Depois de prender a cabeça lá dentro, de tal forma que seria precisos 10 homens a puxar-me pelo pescoço para me “desenfiar” de novo, dei por vi a divagar sobre o bonito estado dos meus caracóis quando tirasse a carapuça. Mas decidi que iria adoptar um movimento à “anuncio de champô”, de modo que mal me “desencapacetei” eis-me a abanar a cabeça para todo o lado, ao melhor estilo da Pantene.

Terceiro desafio: subir para a mota. Porque, como disse, aquilo era mais bem um touro. Um bisonte. Uma coisa grande. Equilíbrio. Não caias na frente desta gente toda por favor. Agarrei-me como pude ao condutor, com unhas, dentes, e que mais tivesse eu para me manter firme, e levantei a perna. De pouco me serviu a minha afamada flexibilidade, porque acabei por dar com a biqueira da bota na mala da mota. Mas finalmente sentei o rabiosque e pensei que aquele fora o meu movimento mais arriscando. Ufa!!!!... Mas quando a coisa se pôs em movimento vi o quão crasso fora o meu erro de julgamento.

Quarto desafio: manter-se em cima da mota. É que aquilo anda. E faz curvas. E inclina-se. E passa entre os carros, que nem sempre nos vêm e muito menos gostar de se sentir ultrapassados por gente de duas rodas. E como, segundo parece, o condutor sente alguma dificuldade em conduzir comigo abraçada ao seu troco como se fora um macaquinho agarrado à mãe, não me restou outra saída senão os apoios laterais. E lá fui, hirta como um pau de vassoura. Depois dos primeiros km deixei de lhe dar “capacetadas” sempre que ele abrandava, e ao fim do dia até já, pasme-se, me atrevi a libertar as mãos e coçar o pescoço.

Balanço final: ainda tenho muito para aprender, mas a Elisabete Jacinto que sou cuide. Hoje nasceu uma motard. Esy rider, easy going.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A NORA PERFEITA

Conhecer os pais dele é sempre complicado. Não para mim, que sou perfeita. Eu penso que sim. O meu papá e a minha mamã pensam que sim. Logo, será de prever que os outros papás e as outras mamãs também assim considerem? Ou não?

Sempre encarei com extrema confiança o momento em que se conhecem os pais. Talvez porque nunca tenha perdido um segundo sequer a comprar-me com a ex do meu actual. Chamem-lhe egocentrismo, mas eu prefiro falar em “auto-consciências das minhas potencialidades”. Porém, quando me apercebi que estava a ocupar o lugar de uma menina prendada, tremi. Quando a bendita da ex é uma exímia dona de casa, pouco dada a saídas nocturnas e extravagâncias afins, sem grande experiencia no campo amoroso, recatada e discreta, damos por nós a pensar que neste campeonato dificilmente ganharemos a taça, pelo menos quando o júri seja a mãe, a tão temível “mãe”, vulgo (potencial) “sogrinha”.

Com calma, Vera, com calma. Tu tens um mestrado, publicas livros e dás conferências. Viajas por todo o mundo e és perfeitamente autónoma em termos económicos. Não és tu a nora ideal? E a pouco surpreendente resposta parece ser: NÃO. Porque eu já tive namorados. Porque eu tenho alguns furos no corpo e alguns desenhos na pele. Porque eu mal sei cozer um botão e deixo queimar o arroz (já agora, se alguém souber como se recupera um tacho esturricado…).

A verdade, nua e crua, é esta: para as mães deles, que por muito boas que sejamos, nunca estaremos suficientemente apta a cuidar do “menino”. Não fazemos sopinhas como elas, nem passamos camisas como elas, nem temos a paciência delas. Em suma, não há juiz mais exigente do que a mãe do nosso amor. Porque o bom do marmanjo pode ser um trintão com mais de 1,90m, mas para elas há-de ser sempre o “menino”. E nada é bom demais para ele. Muito menos nós. Já a ex… quem sabe…

Chegada aqui concluí que tudo aquilo que enche os nossos pais de orgulho passa ao lado das sogras. Pois que interessa que eu seja citada em acórdãos quando nem um ensopado sei fazer? De que me serve a mim ser fluente em várias línguas quando mal sei distinguir uma agulha de tricot de uma agulha de crochet? E já nem menciono as 20 flexões que faço sem apoiar os joelhos porque, em boa verdade, até ao lado dos meus pais isso passa.

As relações entre sogras e noras podem ser uma autêntica Faixa de Gaza. Há quem leve a mal que não nos levantemos para ajudar a levantar a mesa, mesmo que o próprio filho permaneça confortavelmente sentado a palitar os dentes. Convenhamos, ou se levantam os dois, ou apenas ele, ou ninguém. Mas nós seremos sempre as convidadas. De modo que nada nos deve ser exigido, e tudo o que se faça para além disso é uma gentileza que parte da vontade própria. Há quem queira uma companhia para as compras, que incluem naperons e tacinhas de vidro, matéria na qual sou evidentemente perita. Há quem procure uma confidente para se queixar do marido, como se nós não tivéssemos queixas suficientes da cria. Há quem anseie por uma menina que ocupe o seu lugar de protectora/empregada doméstica/ faz tudo. Há quem, em contrapartida, veja em nós potenciais ameaças ao seu papel avassalador e que, por conseguinte, prefira noras sossegadinha no seu canto, que não atentem contra o seu reinado matriarcal.

Mas também existem situações de autêntica paixão. Não falta quem confidencie que o que mais lhe custou ao terminar a relação foi cortar os laços com a nova família. Eu própria já estive “apaixonada” por uma potencial sogra, e no finalzinho custou-me tanto deixar a mãe dele quanto deixá-lo a ele.

Resta a questão crucial: Que procuramos nós numa sogra?

Quanto a mim, só peço que eduque a sua cria de forma a fazer-me feliz, o que pode ter múltiplos sentidos, conforme a potencial felizarda. A nossa felicidade pode passar por alguém que nos leve o pequeno-almoço à cama ou que escute as intermináveis divagações sobre o último projecto de trabalho, isso já depende de cada uma. Mas uma sogra que consiga este feito bem merece um lugarzinho no coração.

Que procuram as sogras em nós? Quero crer que exactamente o mesmo: alguém que torne o seu menino feliz, mais uma vez, seja lá o que isso signifique.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ESTAVA A PENSAR EM EMIGRAR PARA A MAURITÂNIA….

Há uns dias atrás, no programa da Oprah (riem? Atire-me pedras quem nunca viu) recebi uma informação de extrema importância para a minha vida. Providencial, diria mesmo.

Meninas, preparem os passaportes: na Mauritânia o ideal de beleza consiste numa mulher gorda e cheia de estrias. Sim, o céu existe. E chama-se Mauritânia.

Mulheres cheiinhas, gordas, anafadas, cheias de gosma, com estrias rosadas a rasgar-lhes a pele. Tudo isso é admirado. De repente sinto-me tonta por me ter inscrito no Holmes . Mais produtivo seria enterrar-me no sofá com as Oreos, polindo a minha “beleza”.

De forma que estou a ponderar seriamente a hipótese de emigrar para a Mauritânia. Já comecei até a fazer a malinha. Roupa discreta, obviamente, que esta coisa de ser um país muçulmano pode causar alguns dissabores. Mas acho que consigo bem viver tapada dos pés à cabeça se tiver a garantia de ser uma deusa da beleza. Por outro lado, a burca esconde a celulite, logo, são só vantagens. Começo a não perceber porque se queixam as mulheres árabes… aqui do meu canto do Estado laico parece-me uma vidinha santa (no sentido “Ala-iano” da palavra, entenda-se) -

Recordam-se das vezes em que encolhemos a barriga quando passamos frente a um grupinho de meninos? São tempos idos. Agora há que enche-la de ar e espetá-la o mais possível, num misto de gravidez histérica e de balão.

Jeans descaídos que deixam antever o tão perigoso pneu a sair naquele maldito espacinho entre o cós das calças e a t-shirt? Um must.

Iogurtes light e outra comida de dieta? Jamais.

E o melhor – porque ainda há melhor do que o já relatado – é que este ideal estético só vale para as babes. No caso dos homens, querem-se magrinhos. It’s the end of the world as you know it, right? Porque na Mauritânia os papéis que cada um de nós desempenha durante o jantar apresentam-se invertidos:

- “Posso terminar o teu bolo de chocolate? – diz ela – é que se comeres isso tudo as calças deixam de te assentar bem.”

- “Achas que estou gordo?” – pergunta ele.

- “Gordo? Não diria tanto – responde ela, mediando as palavras – mas quando nos conhecemos a roupa assentava-te melhor”.

De modo que ele passa o resto da semana a salada de alface e batidos de dieta, o suficiente apenas para ter a energia necessária para correr 5 km todas as manhãs, enquanto ela abre uma lata de cerveja e se senta em frente à televisão a arrotar e comer amendoins.

Em suma, podemos comer o mundo, mas em termos de carne humana não temos que levar com um namorado balofo. O velho dogma de que é a magreza que nos há-de trazer um noivo bem-parecido é assim ultrapassado por um novo ideal de beleza, que impele os homens a procurar pegas de gordura onde agarrar.

“I have a dream”.

“My dream is Mauritânia.”

sábado, 22 de agosto de 2009

AFINAL, EU JÁ TENHO 33

Reencontrei há pouco uma amiga de longa data, e no meio das usuais conversas de meninas que não se vêm há milénios lá me confidencia ela que pinta o cabelo para esconder os brancos (convenhamos… tirando o Gere e o Clooney, o comum mortal não fica lindo esbranquiçado), ao que eu respondi, com alguma mágoa - e porque não dizê-lo? Comiseração – na voz: “Afinal, já temos 33!”.

E depois parei. Porque, em última instância, what a fuck does it mean? Sim, meus senhores, que raio significa hoje ter 33 anos? No tempo das nossas mães significava estar casada, ter filhos (no caso da minha mamã tinha-me a mim já bem crescidinha), ser uma senhora recatada, com saia direita e escura pelo joelho e serões em frente às novelas enquanto se fazia crochet ou tricot. Não que por essa altura não circulasse já por certos labirintos sociais o mito das trintonas (uuuuuu!), sex-symbols mais ou menos bem conservados que as actrizes e as vizinhas do lado foram fomentando. Mas era eram, no essencial, uma sentença de morte.

Quanto a mim, não me imagino assim nem quando for sessentona. Porque os meus 33, os teus, os nossos, são diferentes. A minha mãe morre um bocadinho de cada vez que vê as minhas (mico)mini-saias. Que já não sou uma miúda, diz ela. Que me devia comportar como uma senhora, acrescenta. Que tenho responsabilidades profissionais, reforça. E eu? Eu encolho os ombros, dispo a saia e visto uns calções ainda mais curtos. A questão, my dear friends, é a seguinte: que culpa tenho eu de ainda ter pernas giras para mostrar? Pois se hoje os ginásios, os cremes e uma nova percepção da existência feminina, permitem que usemos quase ad eternum as saias que as nossas mães só vestiram nos seus tempos de teen (e note-se que a minha abusava da mini-mini, de modo que isto é genético), porque me hei-de confinar a ser uma “senhora”, seja lá o que isso signifique? O tempo há-de chegar, não o apressem.

No fundo, hoje os 30 são os 20 de ontem. E os 40 os 30. E os 40 os 50, and so on. Basicmanrte, é como se as gerações tivessem recuado uma década na tentativa (quiçá frustrada) de driblar o tempo e o envelhecimento. Somo o CR9 (ex-CR7) a contornar adversários, com a sorte de o fazermos melhor do que ele ainda.

De facto, hoje vivemos a perpetuação dos eternos 20 anos. Roupa a mostrar pele, sapatilhas rotas, calças rasgadas, copos e noitadas, saltar da cama às tantas. Porquê? Porque não temos a responsabilidade de um bebé a chorar ou de um marido a querer o pequeno –almoço. E mesmo quando a temos dávamos a volta à coisa. Um grande bravo a todos os papás e mamãs que eu conheço que continuam a namorar e a sair, sem isso esquecer os biberões e as mudanças de fraldas. O que não significa irresponsabilidade. A tão falada “geração rasca” veio a revelar-se responsável, competitiva e produtiva. As aparências enganam, não é avó?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

COMEÇAR DE NOVO

Sou aquilo que se chama uma nómada. Já comecei de novo por diversas vezes e, como se constata pelo presente testemunho escrito, sobrevivi a todas.

Parto porque não consigo ficar. Parto porque não tenho motivos para ficar, nada nunca me prendeu a um sítio. Um dos meus handicaps pessoais – ou vantagem, depende da perspectiva - é a dificuldade em criar raízes. Essa vontade de ir, correr o mundo e partir (a vida é sempre a perder) já me fez deixar tudo e aterrar algures por aí… África, EUA.

Desta vez fiquei mais perto. Mas como a idade já é outra admito que a transição seja mais difícil também. A forma como fazemos amigos aos 20 anos não é todo igual à forma como os fazemos aos 30. Temos mais bagagem connosco, não apenas material (duvido que os senhores das mudanças tenham visto alguma vez uma babe com tantos sapatos), mas sobretudo emocional. E se há uns anos atrás o desafio de começar do zero me encantava, agora… só me semi-encanta. E provavelmente daqui a uns anos começará a desencantar-me. O que quero dizer com isto é que cada vez mais sentimos a necessidade de encontrar um sítio e ficar. Um poiso. Um lar, se quiser entrar na onda lamechas. Porque saltimbancos quarentões não são a coisa mais in do mundo. E, mesmo que sejam, quase desconfio que não serão os mais felizes.

Quando todas aquelas mãos que me vieram ajudar na mudança se foram embora e me deixaram sozinha entre estas quatro paredes senti aquela adrenalina de quem pode deitar tudo para trás das costas e inaugurar uma nova existência. Como se todos os erros do passado passassem subitamente a pertencer a outra pessoa. Na minha frente, uma tela branca, novinha em folha, pronta para ser pintada, riscada, borrada, estragada…rasgada?

Não sei se esta será a minha “vida definitiva”. Se bem me conheço o mais provável é que daqui a uma par de aninhos anuncie neste blog que comprei uma passagem de avião para Kuala Lumpur. Mas enquanto não começo a próxima vida, tenho que viver esta. Numa casa onde nem todas as janelas fecham e a campainha mal toca. Mas é a minha. E gosto dela assim. Porque destas águas furtadas avisto o mundo. E ele, o mundo, sabe que eu estou aqui à espera de o conquistar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A VIRGINDADE RELATIVA

Tenho trabalhado muito em direito farmacêutico e durante as inumeráveis noites em que privei de perto com patentes and so on descobri que, para patentear uma invenção é requisito essencial que a coisa seja “nova”. Não vos querendo maçar com o fabuloso mundo da propriedade industrial, sempre posso avançar que será “absolutamente nova” a invenção não conhecida em nenhuma parte do mundo, e relativamente nova aquela desconhecida no país onde pretende ser registada, ainda que conhecida noutros quadrantes geográficos. Pois bem, assentemos ideias: se uma invenção pode ser nova em várias acepções, então, porque não pode uma mulher ser virgem em várias acepções? Por exemplo, a senhora Y é relativamente virgem em relação ao senhor X, mas não é absolutamente virgem já que em boa verdade varreu metade da cidade. Mas, ainda assim, é virgem. Digo eu… E assim resolvo o assunto a uma série de gente que adoptou os comportamentos que bem entendeu mas agora é incapaz de os assumir perante os outros.

Estas divagações mais ou menos estapafúrdias assaltaram-me a cabeça num domingo sonolento, estando eu semi-estendida no Micra (eu sei… carro de gaja…. ) de uma amiga, a caminho da Figeuira. Dia de praia, conversa de meninas, línguas soltas, saí-se a Leninha com o relato televisivo da temporada. E assim fiquei a saber que, algures pelo mundo, existe uma “associação recreativa” (espero que não para defesa de interesses profissionais) chamada de “Clube das Virgens”. Assim mesmo. Já não é só o Sporting (só eu sei, porque não fico em casa!!!!!!!! lalalalalalalal), o Porto, o Estrela da Amadora. Agora as virgens têm um clube. Não jogam futebol, mas de certeza que têm tantos adeptos quanto o Manchester United.

E pronto (“prontos” também é lindo!). Prometo que esta foi a minha última nota de sarcasmo. Porque o assunto é sério. A virgindade é uma coisa séria. E cabe a cada um e a cada uma abrir mão dela (é que não gosto de a ideia de “perder a virgindade”… parece-me sempre que a deixei esquecida num banco de autocarro) quando bem entender. Conheço quem o tenha feito aos 29 e quem o tenha feito aos 12. E certamente haverá quem tenha sido ainda mais lento e ainda mais apressado. É matéria do foro íntimo de cada um. O momento temporal releva menos do que a pessoa que está do outro lado. É por essa que temos que esperar, não por uma idade ou uma situação da vida. E bem pode acontecer que, mesmo não sendo absolutamente virgens, no sintamos relativamente virgens dado o grau de entrega com que nos assumimos perante alguém que encontramos em momentos mais tardios da vida. Como se fosse aquela a primeira vez e nunca antes tivesse existido outro qualquer someone. “Like a virgin, touched by the very first time…” (é sabido que o meu grau de desafinação é proporcional à minha vontade imensa de cantar).

O que me surpreende é que haja quem faça bandeira da sua virgindade e caminhe pelo mundo apregoando-a. Será que existe também por aí um “Clube das Promíscuas”? E o “Clube dos que Gostam do Sexo Assim e Assado”? E o “Clube dos que Preferem Papel Higiénico Macio”? Não me surpreenderia. . . o associativismos é realmente uma coisa fabulosa.

Este é o blog: http://clubedasvirgens.blogspot.com/ Vale a pena dar uma olhada. Sem preconceitos. Afinal, se nenhum de nós tem vergonha de entrar numa sexshop e não nos rimos ao ver o que por lá anda (ou não anda), parece-me congruente entrar no site com respeito, e até alguma admiração por quem consegue dominar os impulsos da natureza durante tanto tempo.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

CONFISSÕES DE UMA EX-TRISTODEPENDENTE

“Olá, o meu nome é V e sou uma ex-tristodependente. Estou em recuperação. Este é o meu 30.º dia sem depressão”
Todos nós ficamos tristes. Mas para alguns de nós a tristeza pode transforma-se a qualquer momento numa depressão profunda, com perda de peso, choro, noites em claro, e tudo aquilo a que uma boa depressão dá direito. Os comuns mortais derramam um par de lágrimas e seguem o seu caminho. Alguns de nós, porém, lançam-se em queda livre num abismo e enquanto não batem no fundo mais fundo dos fundos não emergem à superfície. Não que sejamos pessoas depressivas, lúgubres ou soturnas. Pelo contrário. A nossa felicidade supera igualmente a vossa, é arrasadora. Simplesmente, é como se qualquer emoção fosse levada até aos píncaros. E o que vale para o riso vale igualmente para as lágrimas.
Costumo pensar em mim como uma espécie de addicted, com a diferença de que a minha adição é a tristeza. Gosto dela? Sim. Sempre pensei que são os momentos tristes que melhor nos fazem apreciar a nossa felicidade. Posso viver sem ela? Com a sua total ausência penso que não, mas sem dúvida que gostaria de a ter mais afastada. Domina a minha vida? Hoje já não.
Porque estou consciente disso apenas me deixo submergir na depressão durante um de par de horas. Um fim-de-semana no máximo. Porque estar deprimida é um luxo, e nem todos nos podemos dar a esse luxo. Eu, de todo, não posso. Sou como um alcoólico em recuperação. Ele sabe que não pode sequer beber um copo de vinho porque estará a abrir a porta a perigos inimagináveis. Passado uns meses autorizar-se-á a beber um copo, mas nunca poderá cair ébrio. É difícil. Para ele um copo nunca será apenas um copo, à vontade de seguir-se-á o desejo de muitos. Ele entra em coma alcoólico; eu entro em coma depressivo. Por isso aprendi a disciplinar-me. Não sei se o controlo das emoções me torna mais fria e menos espontânea, mas tenho a certeza que me torna mais forte. Se a tristeza é a minha debilidade só lhe posso dispensar um prazo muito circunscrito do meu tempo de vida. Hoje em dia dou a mim mesmo um minuto por dia, em regra à noite, antes de adormecer. Não mais. Quem manda sou eu, não o vicio.
Da última vez que me aconteceu um desastre emocional entrei em pânico. Mais do a que a tristeza em si era o temor daquilo que se lhe seguiria. Autorizei-me a deprimir durante um fim-de-semana. E na 2.º feira pintei os lábios, disfarcei as olheiras e saí para a rua. Porque ninguém gosta de fracos. A sensibilidade é admirável, mas a fraqueza não. A vulnerabilidade até pode ser interessante, mas a debilidade é tremendamente aborrecida e monótona. Nenhum dos restantes seres humanos é obrigado a suportar os meus devaneios depressivos, sob pena de um dia eu me transformar em mais uma personagem de novela mexicana. E haverá sempre aqueles que passarão por uma fase de júbilo com a nossa angústia.
Nunca estive numa reunião de alcoólicos anónimos mas nos filmes falam sempre dos 12 passos e do célebre “um dia de cada vez”, e é assim que procuro gerir a minha adição. Não sei quanto tempo me conseguirei aguentar assim, mas sei que hoje ainda não fui derrotada.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Suddenly...

... I hear your voice in my skin and it feels like...

(In: http://img242.imageshack.us/i/455050gr.jpg/ )

QUANDO O AMOR SE MEDE AOS QUILÓMETROS

As relações humanas são complicadas. Quando entre os meus ventrículos e os dele se intrometem centenas, por vezes milhares, de quilómetros, esta complicação torna-se um verdadeiro enigma de física quântica. Como é que se mantém a chama de uma relação à distância?
Convenhamos que a questão não é nova. Os nossos avós e os nossos pais já se depararam com estes dilemas, com a pequena agravante de existirem muitas vezes guerras pelo meio. Já nem falo dos nossos mais longínquos antepassados, que deixaram donzelas debruçadas de janelas de torres para ir por aí matar dragões (ou mouros, o que estivesse mais a jeito).
Claro que hoje em dia a questão está simplificada pela existência de comboios rápidos, viagens aéreas a preços low-cost, telefones, internet e Pc’s com webcam. Se assim é, porque é que eu não conheço nenhuma relação à distância que tenha desembocado num final feliz?
Comecemos pelas minhas, que já sou perita no assunto. O primeiro amor da minha vida era polaco, lindo e alto, espirituoso e… morador em Varsóvia. Durou 5 meses. E assim se inaugurou um longo rol de relações internacionais, desde brasileiros a angolanos, passando por um libanês. Todos os finais foram dramáticos e dolorosos. I should have known better…
Quando o amor se mede à distância, entre continentes ou entre países, ou mesmo entre cidades, temos que nos convencer, antes de mais nada, que estamos sozinhos. Tudo aquilo que os outros fazem a dois, nós teremos que fazer a um.
Nos jantares românticos somos nós e o sofá, eventualmente deixando que a televisão se junte quando estamos numa onda de ménage.
As noites frias, à falta de quem nos aqueça os pés na cama, são suportadas à custa de sacos de água quentes, soterradas em cobertores e lençóis térmicos.
Fins de semana na praia? Enfim, se formos sozinhas não corremos o risco de nos deitarem areia para cima, e lá se haverá de descobrir uma forma de espalhar bronzeador na parte traseira.
Saídas de sábado à noite? Temos a hipótese de saídas com as meninas, e lá vamos nós com a famosa seta luminosa a pairar sob as nossas cabeças, anunciando à rapaziada que o mulherio anda à solta, o que é particularmente embaraçoso quando as amiguinhas andam em busca de companhia masculina, porque então se torna difícil explicar aos candidatos a “companhia” que elas têm de facto luz verde na testa mas que a nossa está vermelha…como as casas de banho do comboio quando estão ocupadas. Saídas com casalinhos? Cortem-me já os pulsos. Resta aquele núcleo indefinido de meninos que oscilam entre os conhecidos e os quero-ser-mais-que amigo. O desejável é evitar os convites que daí venham. Mas a verdade é que passar as noites em casa à espera de um telefonema ou um beijinho na net pode arruinar a nossa sanidade mental. Por isso lá vem o dia em que cedemos, e aceitamos o tal simpático (e completamente inocente e despretensioso) convite para jantar, que na maior parte dos casos termina connosco a bater a porta do carro e uma voz masculina a gritar lá de dentro: “Mas ele nunca iria saber…”
Sim, é difícil manter um amor que se mede em quilómetros. Força de vontade, perseverança, firmeza, lealdade, honestidade, capacidade de aguentar infinitas horas de solidão, paciência, esperança em dias melhores, tudo isso se espera de nós. Falo, em suma, de super-mulheres. E de super-homens, porque acredito que tudo isto se aplica a eles também. Vale a pena? Não sei ao certo. Acredito que sim. Tenho fé que sim. Não sendo eu católica, e tendo que ter fé em alguma coisa, que seja na vitória do amor (já estão a vomitar? É que eu estou quase).
Até porque nada bate aquele momento em que entramos no comboio, a contar cada segundo que falta, com o coração a bater, tirando o espelhinho da mala de minuto a minuto para ver se estamos bem, na ânsia de transformar todos aqueles quilómetros em centímetros de distância.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Alguém Sabe...

... como é que se aplica isto no coração???

terça-feira, 28 de julho de 2009

Cinco Segundos de Sinceridade

Sabem o que me deixa perdida? As pessoas que se desviam do registo conseguido com base na boa fé! Imaginem um homem e uma mulher que ao longo de uns meses (loooooongos meses) tentam começar uma relação de casal (o que não resulta), tentam ser amigos (o que também não resulta), tentam começar uma relação de casal (que mais uma vez não resulta) e por aí fora. Estão a ver um padrão?!?!? Então, depois de muito trabalho, limar de arestas e aperfeiçoamentos, chegam à conclusão que o que resulta entre os dois é: sexo! Sexo com direito a tudinho o que são acrobacias e fantasias! É um acordo honesto e que resulta para ambas as partes. Certo? Errado!!! Porque uma das partes lembra-se de atirar com uns "gosto de ti" e uns "estou sempre aqui" e outras pérolas que tais!!!
E aqui se coloca o problema acerca do qual escreve a Vera. O que esperam as pessoas? Que as outras não estejam a ouvir? Que não estejam a dar importância? Que se esqueçam? Que ajam sem processar a informação Eu até sou das pessoas que acredita mais na teoria de que o que é dito é-o com sinceridade profunda naqueles momentos do que na teoria da leviandade... Mas, mesmo assim... A minha Verinha tem razão, é preciso ter cuidado com as palavras. Muito cuidado.

A LEVIANDADE DE DIZER QUE TE AMO

É incrível como as pessoas que julgamos mais sensatas e responsáveis abrem a boca para dizer que nos amam com a maior leviandade. Como se nos tivessem dito “fecha a porta” ou “está frio hoje”. Como se nada. Não sei se esperam que no dia seguinte nos tenhamos esquecido disso. Ou no ano seguinte. Ou na década seguinte.

Ainda hoje fico perplexa com a leveza com que se usam certas palavras. Não me refiro à mentira propriamente dita. Quero acreditar que as coisas bonitas que me têm dito ao longo destes anos não eram mentira, pelo menos que não o eram naquele momento. Que quem as disse acreditava piamente estar a ser sincero. Mas duvido que fosse aquele realmente o sentimento que lhes ia na alma. Um pouco como quando eu prometi à minha mãe que não faria mais nenhuma tatuagem: não menti descaradamente, não a tencionava enganar, mas uma parte de mim não estava bem certa de conseguir cumprir. Resultado: mais um dragão na perna.

A afirmação - sempre forte e assertiva – de que se ama alguém é uma das que mais leviana se tornou e, por isso mesmo, mais vazia. É que amar não é o mesmo que gostar. Eu gosto de gelados e de bolas de Berlim. Não os amo porém. Não seria capaz de partilhar a minha vida com um corneto, muito menos de dar a vida por uma taça de creme de pasteleiro. Desconfio que a confusão entre gostar e amar se deva ao “I love you” que povoa a nossa linguagem desde que vimos na televisão o primeiro filme de Hollywood. A partir daí “lovamos” tudo, desde os nossos jeans preferidos até à Coca-Cola, passando por pais, amigos e namorados. Acontece que na língua portuguesa o amor é um sentimento que vai para além da preferência, do gosto ou mesmo da paixão.

Como trabalho com palavras tenho o maior dos cuidados no momento de as utilizar. São a minha arma, o modo como enfrento o mundo. Há quem cante (já aqui confessei ter sido eleita a pior cantora do planeta), quem desenhe (eu fico-me por uns rabiscos nas margens das folhas), quem corra (restrinjo essa hipótese à necessidade de chegar a tempo a uma loja prestes a fechar), quem dance (aqui faço o gosto ao pé… e ao rabo…. a bem dizer, a tudo), quem cozinhe (digamos que nunca conquistarei um homem pelo estômago). Pois bem, eu escrevo e falo. Estejam certos que quando utilizo uma palavra nunca o faço por acaso ou de forma irreflectida. Por isso me custa tanto compreender que se delas se faça um mau uso. Dizer que amamos alguém que conhecemos na semana passada é o mesmo que usar sapatilhas com o vestido preto cintado. Não conjuga. Posso até acreditar em amor à primeira vista, mas não é à segunda vista que se sabe que se ama. Apenas passadas muitas vistas nos apercebemos disso e eventualmente até concluímos que tudo sucedeu logo na primeira. Mas essa resposta chega bem mais tarde.

Tão-pouco funciona dizer em voz alta “amo-te” para nos persuadirmos disso. É que se pode querer com todos as células do corpo amar alguém, mas se o coração não bombeia para esse alto de pouco serve gritá-lo em voz bem alta. Só vamos conseguir fazer ruído. E, pior do que isso, não nos convenceremos a nós, mas convenceremos o outro de que assim é.

Por isso não digam nada. Remetam-se ao silêncio. Vão gostando. Vão estando. Vão curtindo a pessoa. Mas se um dia a amarem, aí, digam-no. Porque o pior que pode acontecer é ela nunca vir a saber disso.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Lista de Prendas Para Uma Menina Bem Comportada






Como estou quase a fazer aninhos (anões, aliás), deixo-vos umas ideias para as prendinhas que me vão comprar. Mas, como todas sabem, sou uma rapariga simples e que se contenta com pouco. Se se juntarem todas e me oferecerem apenas o primeiro item da lista, esquecendo a lingerie, os óculos, o perfume, os jimmy choo, fico feliz. Contento-me, vá!

domingo, 26 de julho de 2009

A BOY’S GIRL

Sempre fui a boy’s girl. Não Maria-rapaz, note-se. Enfim, admito que na minha infância e nos primórdios da adolescência cheguei a ser confundida com um rapazinho. O cabelo curtinho não ajudava (obrigada mãe!), mas a certa altura transformei-me numa Barbie. E digo isto sem vergonha. Vivo na futilidade dos trapos, dos batons e dessas coisas todas que fazem os homens vomitar. Ainda assim – e isto é que é verdadeiramente surpreendente – sempre fui uma menina de meninos. Mais amigos que amigas. E bem mais próximos. A minha melhor amiga foi, e é, um menino, e com isto penso que digo tudo. Não meninos que me acompanham na secreta esperança de tirar uma lasquinha, de algum hipotética romance ou, que mais não seja, umas voltinhas de quando em quando. Nada disso. Falo de meninos que me vêm algures entre “um gajo sem pilinha que vai connosco para todo o lado” e a “irmã mais nova que há que respeitar”.

Nestes termos tenho visto intermináveis jogos de futebol (estou um autêntico Rui Santos… até pelos caracóis…), feito de motorista com o carro cheio de marmanjos bêbados (sendo que todos sabem que no meu carro ninguém vomita), chorado baba e ranho nos seus ombros (e nunca esquecerei aquelas palavras de consolo, que oscilam entre o kitsch/lamechas e o absolutamente destrutivo).

Esta é, provavelmente, a primeira altura da minha vida em que começo a acompanhar mais com mulheres. Até à data a ideia em si mesma dava-me alergia. Não me que falte assunto. Desde logo, sempre posso falar de sapatos, e temos conversa para uma semana. Não que me sinta ameaçada, ou elas por mim. Aliás, se há coisa que aprendi nestes últimos meses é que a tão falada rivalidade feminina é um mito urbano. Não nego a sua existência (yo no creo en bruxas, pero…), mas até aqui só me deparei com mulheres fantásticas que serão sempre, nas suas particularidades, “role models” para mim.

Mas a verdade é que nada disto me faz esquecer os meninos. E por isso mantenho o hábito de passar tempo sozinha com eles. E cada vez que isso sucede fico destroçada pela angústia de nunca me ter apaixonada por nenhum… nem eles por mim. Porque os meus meninos são os melhores homens do planeta. Admito que alguns deles encaixam no protótipo do “filho da puta”, que nem todos foram sempre correctos e gentis para com as mulheres do mundo. Mas em todos eles descubro pedacinhos da minha meia laranja. Será que os posso cortar e cozer, construindo um home-made namorado? Se o Dr. Frankenstein o fez, porque não eu? Será que tenho procurado nos amigos aquilo que não encontro nos outros homens? Mas, nesse caso, porque motivo então nunca houve click com nenhum deles?

Já me chegaram a dizer que a minha excessiva proximidade masculina me prejudica mais do que me beneficia. Porque conheço demasiado os homens (o que nunca impediu que caísse como as outras). Porque coloco a fasquia ao elevadíssimo nível dos meus melhore amigos, que são uns fora de série, e como a maior parte dos homens fica muito aquém desse limiar acabo por ter expectativas demasiado altas que depois saem goradas. Porque estar sempre acompanhada com meninos funciona como repelente para o restante público masculino.

Provavelmente tudo isto é verdade. Pelo menos, dava-me jeito que fosse, e com isso encontrava já uma explicação para muita coisa. Ainda assim, e embora aprecie uma tarde de compras com as amigas, nada bate as noites no meio deles, muitas vezes com a minha integridade física em risco, nas mãos de alguma nina mais ciumenta.

sábado, 25 de julho de 2009

Há Dias Em Que Vale a Pena Sair da Cama


Eu e o meu sobrinho Pedro, no carro, a fazer a viagem de Mortágua para Coimbra, a ouvir Linkin Park e a cantar (gritar???) em conjunto :). E o meu sobrinho acha que eu sou fixe, eheheheh, o que faz a inocência!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A EQUAÇÃO DO AMOR

O texto da Vera:):


Hoje conheci uma mulher. Simpática, creio eu. Não especialmente bonita. Até lhe encontrei alguns traços grosseiros e as pernas feias. No entanto, senti inveja dela. Não que lhe deseje algum mal ou que lhe queria roubar a sua boa-fortuna. Invejo-a porque admiro o que ela tem e queria tê-lo para mim também. Porque aquela mulher era muito amada. This much I know.
Vi-a com o marido. Ouvi a forma como ele falava dela e como a olhava. Vi como lhe dava a mão debaixo da mesa, como o olhar dele procurava sempre o dela. Não viajava sem ela, contou-nos. Foi amor à primeira vista, contou-nos. Soube imediatamente que ela era Ela.
Apesar de ter seguido ciências sociais sempre tive alguma apetência pela matemática. E não querendo tomar o lugar de algum neo-Einstein devo dizer que reduzi o amor a uma equação matemática que penso traduzir com exactidão aquilo que deve suceder:

Dedicação X Paixão X Dedicação Y Compromisso Y

________ + _____ = ___________ ________
Compromisso X Respeito X Respeito Y Paixão Y

Se o X for o Eu e o Y for o Ele, então, aquilo que eu lhe dou terá que corresponder àquilo que ele me dá em troca. Já fiz parte de uma equação desacertada. Se há coisa que aprendi é que não funciona. Quando assim sucede - quando de um lado sobrarem milésimas, centésimas, décimas, unidades mesmo, - é porque a equação está incorrecta e aquele suposta meia laranja é apenas uma laranja podre que nos vai acabar por amargar a boca. Solução: substituir aquele Y por outro que permita um resultado perfeito.
Podem filosofar à vontade sobre o amor, mas uma coisa é certa, no finalzinho aquilo que eu dou não pode ser mais (nem menos) do que aquilo que recebo. Matemática pura.
Ou talvez não… afinal, se 2 mais 2 nem sempre são 4, provavelmente no amor nunca são 4… Confesso que já tive dias mais felizes, de modo que hoje não estou na plena posse das minhas faculdades intelectuais. Será que no amor nada é mensurável? Será que se pode viver numa relação em que o meu 100 tem como equivalência um 0 da parte contrária? Será que a lógica matemática deixa escapar as pequenas nuances humanas? Se calhar nada disto é explicável. Não sei. Mas pelo menos uma coisa eu sei: Hoje conheci uma mulher. Era muito amada. E eu senti inveje dela.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

F****

Um dia vão cozinhar para mim. E fazer-me pratos de fruta. Com mel. E preparar-me as bebidas que eu gosto. Sabendo melhor do que ninguém de que bebidas eu gosto. Vão levar-me o pequeno-almoço à cama. Com um pão com formato de coração. Vou receber declarações de amor em forma de pacotes de açucar enfiados na minha caixa de correio. Um dia vão-me oferecer flores de papel. Flores de papel por tudo e por nada, em cima da cama, na fechadura do carro, no cabelo. Vão-me cantar e tocar guitarra. Vão-me aparecer à porta, a meio da noite, de surpresa. Um dia vou namorar à varanda. E alguém vai fazer quilómetros para estar comigo.

Turn-Off Total

Eu e a Vera utilizamos frequentemente este conceito, o do turn-off total. Nem sei se existe ou se fomos nós que o inventámos. Mas utilizamo-lo para descrever pormenores masculinos, físicos ou de carácter (ou mesmo de acessórios, como prova a minha "paixão" pelas pochetes), que eclipsam à partida qualquer desejo (tesão, vá) nosso em relação a quem os possui.

Porque é que me lembrei agora disto? Porque hoje já vi três homens a cuspir para o chão. E ainda agora estamos na hora de almoço. Se todas as mulheres forem como eu e a Vera, é óbvio que estes três homens terão uma vida muuuuuito triste pela frente. Muito, muito, muito triste. E seria bem feito!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Um Blog de Homens...

Apesar da minha já conhecida vontade de hibernar, hoje já me ri! Vão espreitar:

http://cuidadoaoabrir.blogspot.com/

“Por que hei de sentir-me sozinho? Por acaso, não está o nosso planeta na Via-láctea?" – H. Thoreau

Deixo-vos um contributo de uma nova "correspondente", a minha amiga Elsa :).

Nesta nossa luta da vida diária muitas esquecemo-nos de nos encontramos a nós mesmos. Andamos tão preocupados em encontrar a nossa "Alma Gémea", os amigos, as coisas sem as quais não somos felizes, o carro ultimo modelo, a casa na zona nobre da cidade, etc, etc, etc.... E quando conseguimos obter tudo isto parece que nada faz sentido, existem já novos anseios e necessidades. E lá continuamos a nossa luta desenfreada...Decidi escrever sobre a minha experiência pessoal talvez para me libertar a mim própria ou ajudar pessoas que estejam na mesma situação. Desde há seis anos a esta parte a minha vida mudou radicalmente, perdi pessoas muito importantes na minha vida e que não posso recuperar, já se encontram noutro plano, faleceram. Outras passaram pela minha vida com o propósito de alterar completamente o meu comportamento. Eu vivia em função dos outros, em função das minhas amizades e para elas, em relação ao amor eu anulava-me a mim mesma em função do outro, e nada disto resultava. Porque as pessoas entravam na minha vida e seguiam e eu sentia que significava pouco para essas pessoas e isso fazia sentir-me cada vez pior. Mas quem me dava pouco valor era eu mesma.Hoje através de um processo de conhecimento pessoal, cada vez gosto mais de passar um tempo comigo mesma e faço-o com prazer. Os amigos aparecem na mesma sem que eu tenha a mesma sofreguidão em agradar, quando precisam contactam mas também não me magoa o facto de não ter notícias à partida é porque tudo vai bem....Às vezes penso que se deve ao facto de estar a entrar nos quarenta anos de idade.... será que estou a ficar velha??? Encontrei uma serenidade que há muito procurava.... Nunca estamos sozinhos!!